A Bolsa está cara ou ainda barata?
(Bloomberg) -- Mesmo após o recorde da Bolsa nesta semana, as ações brasileiras ainda parecem significativamente baratas quando o índice Bovespa é medido em dólar e comparado com o pico registrado em 2008.
A relação entre o preço e o lucro das empresas do índice superou levemente a média, mas este pode não ser o maior problema, e sim o complexo ambiente político-econômico em um ano de eleições, segundo analistas do mercado.
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O Ibovespa pode chegar a um nível entre 85 mil e 90 mil pontos este ano e será influenciado pela eleição, diz Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management. Esse alvo já assume um presidente reformista sendo eleito, caminhando para 90 mil se o presidente tiver boa base no Congresso e 85 mil se tiver uma a oposição forte.
Se a reforma da Previdência for votada e passar ainda este ano aumentam as chances de uma alta mais forte do que a estimada da Bolsa, diz o estrategista. No caso de derrota, o impacto será negativo, mas reduzido pelo fato de o mercado ser cético com a proposta.
Quando o valor das ações do índice é medido em dólar, a Bolsa ainda tem "um caminho grande para percorrer", mas o risco de correções existe, diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Corretora.
A eleição "está no radar" do investidor e, nos níveis atuais, o mercado fica mais sensível a eventuais notícias negativas que possam causar uma realização de lucros. "A Bolsa em reais está esticada", diz Spyer.
A alta das ações brasileiras se deve ao otimismo do mercado global, diz Bernardo Rodarte, da Sita Corretora. Para ele, sem o cenário externo benigno, seria bastante improvável o Ibovespa estar no nível atual após noticiário de que a reforma da Previdência pode ser deixada para após eleição. "Se a Previdência não passar, as contas vão arrebentar rápido e seremos rebaixados pelas outras agências de rating".
O ceticismo com a reforma, contudo, não tem afastado o capital externo da Bolsa. O saldo acumulado de recursos estrangeiros em ações na B3 no acumulado do ano até 17 de janeiro está positivo em R$ 4,9 bilhões, caminhando para maior volume desde janeiro de 2017.
Mario Avelar, gestor de portfólio da Avantgarde Capital, tem uma visão otimista e também cita as expectativas para o julgamento do ex-presidente Lula, no dia 24, além do desempenho positivo do mercado externo. "O mercado começa a olhar para julgamento de Lula com nível de otimismo muito alto", diz Avelar.
Spyer, da Mirae, considera que, para a Bolsa voltar ao nível de 2008, quando o índice superou os 44 mil pontos em dólares, seria necessária uma combinação perfeita de notícias positivas em todos os campos, econômico, político e internacional.
Ele lembra que quando a Bolsa atingiu seu pico histórico, antes da crise global quase uma década atrás, o país vivia sob um "céu de brigadeiro", uma situação diferente do quadro vivido hoje, apesar dos sinais de melhora da economia desde o ano passado.
O recorde anterior da Bolsa foi atingido em 30 de maio de 2008, poucos antes de o mercado sofrer forte queda com o estouro da crise financeira global. Antes da crise, o quadro era de mundo em expansão puxada pela China, que crescia mais de 10% ao ano.
No Brasil, o rating (nota de crédito) do país tinha acabado de ser elevado a grau de investimento, o PIB avançava com inflação controlada, as contas públicas tinham elevado superávit e o então governo Lula, com Henrique Meirelles no Banco Central, tinha a aprovação dos mercados. Hoje, a mesma S&P que primeiro promoveu o Brasil em 2008 acaba de rebaixar o rating do país a três graus abaixo do grau de investimento.
Patah, do UBS, observa que os estrangeiros miram sobretudo o patamar da Bolsa em dólar na hora de investir, mas muitas variáveis são observadas. Em termos de relação preço/lucro, a Bolsa está levemente acima da média de um ano. Além disso, a alta recente mostra que o mercado já antecipou boa parte do aumento do lucro das empresas esperado para este ano, o que indicaria cautela ao investidor.
Para Patah a alta da Bolsa é favorecida também pela expectativa de crescimento maior da economia brasileira e pela expansão global, que traz a novidade de ocorrer tanto na Ásia quanto nos EUA e Europa.
"As maiores economias estão crescendo de forma sincronizada". Para a Bolsa ganhar maior impulso e retomar os níveis do pico de 2008, contudo, Patah faz coro com a maioria dos analistas e coloca a eleição de um "presidente reformista" como fator fundamental.
--Com a colaboração de Ricardo Strulovici Wolfrid
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