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Por que empresas aéreas precisam de mais mulheres pilotos

David Fickling

20/04/2018 13h53Atualizada em 23/04/2018 16h04

(Bloomberg) -- Tammie Jo Shults é a mais recente heroína da aviação comercial. Então, por que não há mais mulheres pilotos como ela?

A comandante da Southwest Airlines, elogiada pela tranquilidade demonstrada ao lidar com uma despressurização e um pouso de emergência na Filadélfia, na terça-feira, depois que o motor do Boeing 737 explodiu no meio do voo, continua sendo uma exceção no setor aéreo.

As mulheres representam aproximadamente metade da tripulação de cabine, mas entre os pilotos essa proporção cai para apenas 5,2 por cento, segundo a Sociedade Internacional de Mulheres Pilotos de Empresas Aéreas. Há uma parcela maior de mulheres no mercado de trabalho saudita e nos conselhos de administração da Índia do que nas cabines de pilotagem dos aviões comerciais dos EUA.

O mais notável dessa estatística é sua persistência. Amelia Earhart, Bessie Coleman, Pancho Barnes e Jean Batten chegaram ao céu pela primeira vez há quase um século. As CEOs Carolyn McCall e Jayne Hrdlicka chegaram ao topo da Easyjet e da Jetstar, uma empresa aérea da Qantas Airways, respectivamente, em 2010 e 2012 -- mas as mulheres ainda representam apenas 5,8 por cento dos pilotos da Easyjet e 5 por cento dos da Qantas.

As razões normalmente citadas para explicar essa disparidade não chegam nem perto de ser desculpas válidas.

Sem dúvida, os pilotos passam muitas horas fora de casa -- mas isso não cria o mesmo desequilíbrio de gênero na tripulação de cabine. O treinamento de piloto e a manutenção da licença de piloto comercial podem ser processos caros e demorados, que normalmente exigem 1.500 horas de voo no princípio e uma decolagem e uma aterrissagem por mês depois disso -- mas a cultura de trabalho com horários prolongados não impede as mulheres do mesmo modo em outras carreiras, como no setor de finanças e na política.

A antiguidade entre os pilotos também tende a corresponder às horas passadas no ar, por isso é provável que a hierarquia seja dominada por funcionários do sexo masculino e mais velhos por muito tempo depois que mudanças começarem a ocorrer na parte inferior da hierarquia. Ainda assim, se os homens do alto escalão tendem a contratar e a promover pessoas parecidas com eles, existe um problema de discriminação no ambiente de trabalho que deve ser tratado como tal.

Em um setor em que a Cathay Pacific Airways abandonou a regra de empregar exclusivamente mulheres como comissárias de bordo apenas no mês passado e em que a Singapore Airlines continua anunciando, no estilo Mad Men, os encantos da "garota de Cingapura", é provável que a persistência de atitudes antiquadas não surpreenda.

A presidente da Women in Aviation International na Austrália, Tammy Augostin, ainda se lembra de um instrutor que comentou em 2010 que "se as mulheres estivessem destinadas a pilotar aviões, o céu seria rosa". Ela disse que "os mais jovens com certeza são bastante solidários, mas essa mentalidade mais antiga ainda se faz presente".

O momento atual é a melhor oportunidade dos últimos anos para uma mudança. Com o aumento das viagens aéreas e a necessidade de mais 637.000 pilotos nas próximas duas décadas, as empresas aéreas já têm uma enorme tarefa de recrutamento pela frente. A adição de cotas e financiamento para estimular que mais mulheres ingressem nas escolas de aviação -- como a Qantas está fazendo, com o compromisso de dobrar a contratação na próxima década -- deve ser vista como parte essencial desse processo.

Além disso, as empresas aéreas precisam se empenhar muito mais para melhorar suas políticas familiares, que normalmente refletem as prioridades dos sindicatos dominados por homens que as negociam, e que em alguns países carecem até da cláusula básica de licença parental remunerada.

A questão não se limita ao altruísmo e à justiça. A habilidade de pilotar um avião comercial moderno representa, em grande parte, a capacidade de tomar boas decisões sob estresse. Diversos estudos ao longo dos anos mostraram que as mulheres têm tempos de reação mais rápidos que os homens e tendem a correr menos riscos, qualidades que todos gostaríamos de ver em nossos pilotos.

Há motivos sólidos, tendo em vista interesses próprios, para as empresas aéreas corrigirem o desequilíbrio de gênero nas cabines de pilotagem.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP nem de seus proprietários.