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Quebrar tabus está se tornando bom para os negócios na Índia

Saritha Rai

26/04/2018 12h47

(Bloomberg) -- Pankaj Chowdhry sente na pele a dificuldade dos jovens casais não casados na Índia.

O engenheiro automotivo de 25 anos mora com os pais em Nova Délhi e sua namorada há quatro anos mora com os dela. Eles lutaram muito para conseguir um tempo a sós em uma sociedade na qual o sexo antes do casamento é inaceitável e as únicas opções eram hospedarias decadentes com tarifas exorbitantes e perguntas invasivas.

Isso é passado. Chowdhry agora pode reservar algumas horas em um hotel respeitável com um aplicativo de smartphone chamado StayUncle, especializado em estadias curtas durante o dia. Ele faz parte de uma série de jovens startups que estão construindo negócios quebrando o estigma secular em torno do sexo, do romance e dos relacionamentos em uma das culturas mais tradicionais do mundo.

"Minha namorada não precisa mumificar o rosto com um lenço ou lidar com os olhares sórdidos dos funcionários", disse ele. "Nós nos afastamos dos olhos do público e nos sentimos seguros."

A Índia é um lugar sem igual quando o assunto é sexo. A polícia invade hotéis em que casais de namorados tentam ter momentos privados. Os parceiros gays podem enfrentar processos criminais e os segundos casamentos são fortemente desencorajados em muitos lugares. O sexo antes do casamento não é tecnicamente um crime, mas a legalidade é tão dúbia que foi necessária uma decisão da Suprema Corte, há alguns anos, para deixar claro que nenhum casal podia ser enviado à prisão por ter relação conjugal sem se casar.

A tecnologia está começando a mudar as práticas, se não as próprias morais. Um aplicativo de startup chamado Delta reúne solteiros LGBTQ e o Inclov tenta promover encontros entre deficientes físicos. O Secondshaadi ajuda a conectar divorciados e viúvos, há tempos evitados por serem parceiros pouco promissores. O slogan do StayUncle, que tem sede em Nova Délhi? "Os casais precisam de um quarto, não de julgamento."

As startups enxergam crescimento pela frente. A Associação de Internet e Dispositivos Móveis da Índia estima que o país terá 478 milhões de usuários de internet móvel no verão (Hemisfério Norte), porque milhões de jovens locais buscarão conexão com dispositivos móveis.

"Os smartphones estão ajudando a alcançar os usuários, por mais dispersos que sejam, o que permite que as empresas de nicho rompam barreiras sociais", disse Anupam Mittal, investidor-anjo em Mumbai fundador do serviço matrimonial on-line Shaadi.com.

Sakshi, uma estudante de 19 anos de Délhi, é usuária frequente do StayUncle com seu parceiro, também estudante. Ela e as amigas conversam abertamente sobre o serviço -- um evento recente organizado pelos estudantes na faculdade inclusive distribuiu cupons de estadia do StayUncle como prêmios --, mas não contam para os pais.

"Meus pais nunca aprovarão um namorado, muito menos que eu divida um quarto de hotel com ele", disse Sakshi, que não quis revelar o sobrenome. "Nós somos uma Índia diferente."