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Remédio reduz dor de cabeça dos preços altos: Bloomberg Opinion

Max Nisen

21/05/2018 12h57

(Bloomberg) -- Os preços dos medicamentos nos EUA continuarão sendo os mais elevados do mundo por algum tempo, apesar do plano do presidente Donald Trump. Mas uma medida inesperada da Amgen sugere que algum progresso está sendo feito na fonte para reduzir os custos.

O Aimovig, novo remédio da empresa contra enxaqueca que será vendido em colaboração com a Novartis, foi aprovado na quinta-feira pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês). A droga, capaz de reduzir significativamente a frequência e a severidade da dor de cabeça, custará US$ 6.900 por ano, e não os US$ 10.000 ou mais que alguns previam.

O mercado de combate à enxaqueca é grande, e muitos clamam por esse novo medicamento. O Aimovig é o primeiro remédio do tipo a receber aprovação, por isso a decisão a respeito do preço tinha maior importância que na maioria dos casos. Desta vez, Amgen e Novartis acertaram. Trata-se de uma decisão pragmática que poderia servir de modelo para o futuro.

Se o preço do Aimovig fosse colocado no topo da faixa esperada, a Novartis e a Amgen correriam o risco de encontrar restrições, um lançamento lento e protestos da população. Como um medicamento semelhante da Eli Lilly provavelmente chegará ao mercado no fim do ano, os intermediários do mercado teriam todos os motivos do mundo para retardar a adoção do Aimovig até poderem usar novas opções para desencadear uma guerra de preços. O preço mais baixo elimina parte desse incentivo, e a Amgen afirmou, em conferência após a aprovação, na sexta-feira, que parece estar tudo bem para os administradores de programas de benefícios em medicamentos (PBMs, na sigla em inglês).

A decisão da Amgen para os preços também pode ajudá-la a evitar um caminho doloroso como o que foi empreendido com o Repatha, seu novo remédio contra o colesterol, desde a aprovação, em 2015.

Milhões de pessoas têm colesterol alto, e a maioria consegue controlá-lo com estatinas genéricas baratas. A perspectiva de uma mudança em massa para uma alternativa de US$ 14.000 por ano foi intragável para PBMs e seguradoras, que criaram obstáculos e tornaram excepcionalmente difícil obter esse medicamento. O crescimento das vendas tem sido tão lento que a Regeneron Pharmaceuticals e a Sanofi agora estão dando grandes descontos para a gigantesca PBM Express Scripts Holding pelo medicamento concorrente Praluent na tentativa de gerar algum tipo de impulso no mercado.

A estratégia da Amgen para o Aimovig pode não impedir que os PBMs tentem algumas táticas de atraso, mas mostra com clareza que a farmacêutica aprendeu com sua experiência. Dada a demanda reprimida de pacientes e o baixo preço inicial, o medicamento deve ser relativamente acessível. A estratégia de baixar o preço é particularmente inteligente porque o Aimovig terá o mercado apenas para si apenas durante alguns meses.

O preço cairá independentemente do momento de chegada dos demais participantes, por isso é mais importante conseguir que o máximo de pacientes possível adote o medicamento a longo prazo do que ganhar o máximo de dinheiro possível com apenas alguns meses de venda. A partir do momento que os pacientes estiverem tomando o medicamento, será caro e difícil para as outras empresas fazê-los mudar.

O fator relações públicas também precisa ser considerado.

É altamente provável que o preço real do Aimovig tivesse ficado nesta faixa mesmo que a Amgen tivesse definido um preço mais elevado após a inclusão de vários descontos. Mas o governo Trump criticou fortemente os altos preços de tabela e os acordos secretos com PBMs em seu plano recente para os preços dos medicamentos. Este é o primeiro medicamento novo e importante a receber preço desde o anúncio do plano e claramente vinha sendo observado de perto. A ideia de aplicar o desconto antecipadamente foi inteligente e oportuna.

Outras empresas têm aplicado preços abaixo das expectativas nos últimos tempos. Mas este remédio é um candidato perfeito para receber um preço elevado, considerando que é o primeiro de uma empolgante nova classe de medicamentos para uma população com muitas necessidades não satisfeitas. O fato de a Amgen não ter seguido esse caminho estabelece um precedente importante -- não apenas para Lilly, Teva e Alder, mas também para o setor como um todo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.