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Facebook rejeita proposta para rotulagem de notícias políticas

Naomi Nix

23/05/2018 14h50

(Bloomberg) — Embora o Facebook tenha dito que quer traçar uma linha entre as notícias e a desinformação, a empresa rejeitou uma oferta para trabalhar com uma associação de veículos de mídia para ajudar a resolver um conflito, mostram e-mails.

O CEO da News Media Alliance, David Chavern, propôs na segunda-feira um plano que eximiria alguns veículos de imprensa de um novo requisito do Facebook de colocar qualquer anúncio que eles comprarem para promover suas matérias sobre política em um banco de dados público junto com informações sobre anúncios de candidatos e grupos políticos.

De acordo com essa proposta, seria criada uma lista de veículos de imprensa considerados confiáveis que ficariam isentos do requisito.

Em e-mail obtido pela Bloomberg News, Campbell Brown, diretora de parcerias de notícias do Facebook, respondeu que a empresa "levaria em consideração suas sugestões", mas disse que a empresa planejava negociar diretamente com os veículos.

"Estamos trabalhando diretamente com os veículos e temos tido muitas conversas com eles sobre a melhor abordagem", acrescentou ela. "Todos nós concordamos que é importante ter mais transparência, portanto qualquer solução deve atender a esses objetivos. Vamos dar a conhecer os nossos planos em breve. Agradeço novamente a sua contribuição."

Brown e um representante do Facebook não responderam imediatamente a um pedido de comentário.

Tentativa de fragmentação

Chavern disse em um comunicado que o Facebook estava tentando "fragmentar a mídia silenciando o que faz mais barulho e deixando o resto gritar". O New York Times, o Washington Post e o Wall Street Journal são membros da News Media Alliance.

O Facebook quer avançar com os planos para rotular a propaganda eleitoral como propaganda política, mas parte dos conteúdos mais politizados vêm de sites disfarçados de veículos de notícias.

Para os veículos de notícias tradicionais qualquer rotulagem ampla de notícias como conteúdo político significaria um viés. No entanto, uma solução que eximisse determinados veículos colocaria o Facebook na posição de decidir o que é notícia verdadeira e, portanto, não aparecer neutro em relação aos conteúdos.

O Facebook anunciou pela primeira vez que criaria um arquivo de propaganda política no ano passado, quando enfrentou críticas de que o site teria sido usado por operadores russos para influenciar a eleição presidencial americana de 2016.

A empresa de Menlo Park, Califórnia, depois apresentou um plano para divulgar quando um veículo de notícias paga para aumentar a exposição de artigos sobre política e para armazenar detalhes sobre os grupos demográficos que viram os anúncios e o quanto foi gasto em um arquivo que inclui anúncios de políticos e grupos políticos. Os artigos impulsionados pelos veículos de imprensa teriam rótulos que especificariam "pago por", assim como a propaganda política.

Críticas

A News Media Alliance argumentou que se o Facebook colocar as notícias e o apoio político na mesma categoria em sua plataforma a empresa vai promover fontes de notícias menos confiáveis e corroer a confiança do público na mídia.

"Seu plano de agrupar publicações de qualidade junto com publicações de apoio político, como o arquivo de anúncios fará, borra perigosamente os limites entre a reportagem real e a propaganda", disse Chavern em carta enviada na sexta-feira ao CEO do Facebook, Mark Zuckerberg. "Tratar notícias de qualidade como notícias políticas, mesmo no contexto de marketing, é profundamente problemático."

"Estamos fazendo alterações que causam impacto na propaganda política e acrescentam novos rótulos e um arquivo onde seja possível fazer buscas", disse Brown em comunicado na sexta-feira. "Reconhecemos que o conteúdo das notícias sobre política é diferente e estamos trabalhando com os veículos de imprensa para desenvolver a abordagem correta."

—Com a colaboração de Sarah Frier.