Não é hora de mudar meta de inflação, diz Sérgio Werlang
(Bloomberg) -- A incerteza com o elevado déficit fiscal do país, agravada pela falta de horizonte eleitoral, torna o momento inadequado para reduzir a meta de inflação a menos de 4%, diz Sérgio Werlang, professor e assessor da presidência da FGV. A volatilidade do dólar também recomenda cautela e cortar a meta nesta circunstância "não seria crível", afirma Werlang, que, como diretor de política econômica, fez parte da administração do Banco Central que criou o regime de metas em 1999.
O Conselho Monetário Nacional define nesta terça-feira qual será a meta para 2021. Na reunião do ano passado, o CMN já havia estipulado números mais baixos para os próximos anos - de 4,5% em 2018, a meta passou a 4,25% em 2019 e 4% em 2020.
Para Werlang, o argumento usado por parte da equipe econômica de que a meta brasileira ainda é elevada para os padrões dos países emergentes, onde o número gira em torno de 3%, não é suficiente para justificar um corte adicional. O Brasil tem meta maior, mas também possui situação fiscal mais dramática do que muitos outros países, enquanto a volatilidade cambial gera receios sobre repasses da alta do dólar para os preços. "Eu nem teria baixado a meta para 4,25%, teria deixado em 4,5%."
Quanto ao problema fiscal, Werlang considera a reforma da Previdência como o maior desafio, mas cita um segundo problema a ser enfrentado que é o do nível dos gastos com os salários do setor público, que ele considera muito elevado. A Constituição, ao dar estabilidade aos servidores e proibir a redução dos salários, dificultaria o corte dos gastos. "A discussão sobre o RH do setor público é muito importante. Este é o grupo de maior poder aquisitivo da população e recebe uma fatia desproporcional do orçamento."
A política monetária não é independente da fiscal. Por isso, argumenta Werlang, uma redução mais ambiciosa da meta de inflação exigiria o avanço da agenda fiscal. Com a eleição presidencial incerta e a força da economia americana dando combustível extra para a alta do dólar, manter a meta inflacionária em um nível um pouco mais alto pode até ajudar a reduzir o déficit fiscal, diz o economista. Uma inflação marginalmente mais elevada pode gerar algum alívio nas contas públicas caso o governo consiga dar reajustes ao funcionalismo um pouco abaixo da alta dos preços, no que seria uma "margem de manobra extra" para o orçamento.
O repique recente dos preços verificado com a alta do dólar e a greve dos caminhoneiros mostra "o quão frágil ainda somos em termos de inflação", observa o professor da FGV. Para ele, as incertezas acarretadas pela política fiscal, as eleições e o impacto do aperto monetário do Fed sobre o dólar trazem o risco de o BC ter de elevar os juros para sustentar uma inflação menor, fragilizando ainda mais a economia. "Imagina que você corta a meta e o real tem uma desvalorização maior. E aí, vai subir juro com a economia como está?"
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