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Venezuelanos tentam encarar novo plano econômico de Maduro

Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Imagem: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Andrew Rosati e Fabiola Zerpa

22/08/2018 15h47

(Bloomberg) -- A Venezuela começou a lidar nesta semana com uma depreciação cambial de 95% e um regime de controles que, após anos de fome e hiperinflação, é recebido como mais uma inconveniência.

Caracas voltou ao trabalho após o feriado prolongado no qual o presidente Nicolás Maduro anunciou a desvalorização e um aumento no salário mínimo de mais de 3.000%. As decisões refletem aceitação tácita da taxa de câmbio no mercado negro.

Foram introduzidas novas cédulas com cinco zeros a menos (segunda medida do tipo em uma década) para simplificar transações. Muitas pessoas fizeram fila em frente aos bancos para receber os novos bolívares soberanos após meses sobrevivendo sem dinheiro.

O operador de máquinas Jimmy Lugo, 39 anos, esperou para sacar dinheiro para pagar a passagem de ônibus. Ele torce para que o novo pacote econômico traga alívio temporário porque o presidente Maduro dificilmente deixará o poder. "Só tem um navio. Ou flutua ou todos afundamos juntos."

Muitos temem que as reformas agravem ainda mais a situação. A inflação passa de 100.000%, faltam alimentos e remédios e milhares fogem para países vizinhos, onde muitos são recebidos com violência.

O governo socialista está usando táticas conhecidas na tentativa mais recente de conter o caos econômico, incluindo limites de preços para 25 produtos essenciais.

A equipe de Maduro também anunciou que leilões de moeda, usados para definir a taxa de câmbio oficial, seriam retomados nesta quarta-feira (22), com maior frequência e acesso. Porém muitos duvidam que o ajuste no sistema, estabelecido em 2003, diminuirá a falta de dólares que estrangulou a produção doméstica e acabou com a oferta de bens importados.

Na terça-feira (21), ao redor de 17h31, um terremoto de magnitude 7,3 foi registrado no nordeste do país, perto da costa do Atlântico, e chegou a estremecer prédios em Caracas.

Drones com explosivos

A pressão sobre o governo vem aumentando, com protestos violentos pedindo a derrubada dos socialistas. Neste mês, Maduro promoveu novo cerco aos opositores após sofrer uma tentativa de assassinato por drones carregados com explosivos.

Em Caracas, muita gente já falava sobre alta de preços apesar das advertências de Maduro.

A assistente administrativa Marelis Martinez, 57 anos, contou que queijo e ovos ficaram um terço mais caros durante o fim de semana.

"Isso tudo é uma piada, acho que estão rindo da minha cara", desabafou Martinez. "O presidente pode falar que o salário mínimo vale o quanto ele quiser, mas não dá para comprar um frango."

(Com a colaboração de Noris Soto)