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Análise: Gigantes chinesas de tecnologia tropeçam

Shuli Ren

31/08/2018 12h11

(Bloomberg) -- Nem todas as gigantes do setor de tecnologia são iguais. Enquanto as americanas Apple e Amazon.com marcham na direção de US$ 1 trilhão em valor de mercado, investidores estão se livrando das ações de estrelas chinesas.

A divergência começou há dois meses e, desde então, as grandes companhias americanas de tecnologia estão 19 pontos percentuais à frente de suas contrapartes chinesas. Há mais de US$ 18 bilhões em apostas contra a líder do e-commerce Alibaba Group Holding, fazendo dela a ação com mais posições vendidas no mundo.

As ações da Tencent Holdings chegaram a cair 5 por cento nas negociações antes da abertura do mercado em Hong Kong na quinta-feira, após notícias de que o governo chinês pretende restringir ainda mais os games online.

O movimento tem vários motivos. Em junho, a guerra comercial deflagrada pelos EUA começou a abalar a confiança dos consumidores chineses, que são os clientes dessas companhias. A última temporada de resultados trimestrais foi ruim. O crescimento dos lucros no segundo trimestre recuou para 16,2 por cento, vindo de 47 por cento um ano antes.

Mas há razões para se pensar que a divergência é estrutural e veio para ficar.

Um argumento se baseia nos múltiplos de Tencent e Alibaba. Apesar dos resultados fracos, as ações são negociadas dentro do intervalo histórico para a razão entre preço e lucro. Quando o critério é a razão entre preço e faturamento, os múltiplos desabaram.

Isso significa que os investidores deixaram de acreditar que cada dólar vendido por uma companhia chinesa de tecnologia pode chegar ao acionista da maneira que ocorria no passado.

Os gastos dessas empresas são alarmantes. Neste ano, Alibaba, Tencent e JD.com investiram mais de US$ 37 bilhões em startups. Não se vê essa generosidade em termos de venture capital por parte de Amazon ou Apple.

Enquanto Amazon e Netflix ainda acreditam em entrar em novos mercados sozinhas, o setor privado chinês parece ter decidido que o investimento estratégico em startups é mais atraente. As companhias chinesas podem estar se guiando pelo que fizeram seus patronos no passado. Afinal, pequenos investimentos duas décadas atrás pela sul-africana Naspers e pela japonesa SoftBank Group se transformaram em participações de mais de US$ 130 bilhões em Tencent e Alibaba, respectivamente.

No entanto, o que se observa atualmente é uma confusa sobreposição de investimentos. Ofo e Mobike são as líderes em bicicletas compartilhadas na China, sendo que a primeira tem a retaguarda da Alibaba. A Mobike, inicialmente apoiada pela Tencent, foi comprada recentemente pela Meituan Diaping, serviço online de entrega de comida no qual a Tencent tem 20 por cento de participação.

Na Indonésia, onde o atrativo é a população jovem, Alibaba, Tencent e JD.com apoiam quatro das seis maiores empresas de e-commerce.

Naspers e SoftBank não se trombavam na época em que incentivavam startups na China, dando preferência a diferentes áreas do consumo pela internet. Não é o que ocorre com os novos conglomerados online do país.

A maior sobreposição só pode levar a concorrência brutal, maior queima de caixa e diminuição do retorno sobre o capital investido.

Os balanços já mostram sinais preocupantes. Novos negócios, como computação em nuvem e entretenimento, estão corroendo o lucro da Alibaba.

A situação da JD.com é pior. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento cresceram 80 por cento para 2,8 bilhões de yuan (US$ 410 milhões) no trimestre passado, mas a empresa não espera aceleração das vendas. Sua própria projeção é de, no máximo, 17 por cento.Expansão incansável é uma vantagem, mas os investidores precisam de lembretes regulares de que essa expansão compensa.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.