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Queda da demanda leva Bolsas de criptomoeda a práticas polêmicas

Olga Kharif

11/09/2018 14h33Atualizada em 11/09/2018 18h08

(Bloomberg) -- Com a queda do volume de transações em moeda digital, algumas das maiores Bolsas de criptografia estão se voltando para práticas pouco ortodoxas para impulsionar a atividade e conquistar participação no mercado.

Bitfinex, FCoin e OKex estão incentivando startups a direcionar os depositantes para suas plataformas de negociação on-line para listar moedas. Outras Bolsas, como Binance e KuCoin, estão adotando taxas de listagem que podem diferir por projeto. Muitas Bolsas também estão lançando suas próprias "moedas nativas", que os traders usam para votar em potenciais listagens.

Essas práticas contrastam com as das Bolsas tradicionais, que cobram taxas fixas mais baixas e não exigem que os emissores direcionem tráfego para a Bolsa. Outras Bolsas não fazem pesquisas com os usuários existentes sobre quais títulos serão negociados.

A adoção dessas práticas inusitadas acontece em um momento em que as Bolsas de criptomoedas lidam com as consequências da queda de preços que abalou o mercado de moedas digitais, que despencaram em média 50%. O volume de negociação caiu 80% desde o pico registrado em janeiro, segundo dados da CoinMarketCap.com.

E novos tipos de moedas e Bolsas, que alegam ser mais baratas e fáceis de usar, poderiam abalar ainda mais a receita de taxas.

"A desaceleração do mercado com certeza contribuiu para que emissores de moedas e Bolsas passem a adotar mais estratégias pouco ortodoxas", disse Lucas Nuzzi, diretor de pesquisa sobre tecnologia da Digital Asset Research, por e-mail.

Para os emissores de moedas que buscam exposição aos investidores, essas práticas podem gerar confusão. Christopher Franko, cofundador da startup de blockchain Expanse, que tem sede em Washington, na Carolina do Norte, disse que a KuCoin cobraria uma taxa de listagem de 50 bitcoins --cerca de US$ 315 mil na cotação atual. A Expanse desistiu da listagem.

"Temos condições de pagar essa taxa, mas isso não justifica os meios", disse Franko, em entrevista por telefone. Muitas startups preferem investir essas quantias em pesquisa, desenvolvimento e marketing."

O porta-voz da KuCoin refutou a taxa de listagem de 50 bitcoins e disse que seus preços variam de acordo com a startup. A Bolsa não divulga os preços. "A taxa de listagem não é o principal fator para a listagem de um projeto, é o projeto em si", disse o porta-voz Miles Wu.

Pode ser difícil determinar as taxas das Bolsas de criptomoedas com antecedência, e duas startups do mesmo porte que se candidatarem a uma listagem na mesma Bolsa poderiam ter que pagar taxas diferentes. Em contraste, a Nasdaq cobra US$ 50 mil para listar uma empresa com até 15 milhões de ações e US$ 225 mil para listar uma empresa com mais de 100 milhões de ações.

A motivação por trás dessas medidas incomuns é bastante evidente. As taxas contribuíram com cerca de US$ 1 bilhão para a receita das Bolsas até o momento, de acordo com Lex Sokolin, da Autonomous Research. Os preços de listagem em algumas Bolsas na Ásia chegaram a US$ 1 milhão, de acordo com Michael Jackson, sócio da Mangrove Capital Partners.

Mas tais práticas representam um sinal de perigo para os analistas do setor, especialmente porque muitas bolsas de criptomoedas funcionam como mercado, corretor, custodiante e até mesmo detentor de ativos - papéis que costumam estar separados na estrutura do mercado financeiro tradicional.

--Com a colaboração de Michael Patterson.