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Citigroup quer quase dobrar time de private banking para Brasil

Cristiane Lucchesi e Daniel Cancel

12/09/2018 07h00

(Bloomberg) -- O Citigroup Inc. planeja quase dobrar o número de executivos de relacionamento com seus clientes brasileiros da área de private banking nos próximos dois anos à medida que a competição se intensifica e os programas de anistia fiscal trazem à luz fortunas antes ocultas.

O Citi Private Bank espera contratar mais 10 executivos, elevando a equipe para 25, segundo Cesar Chicayban, que administra o negócio no Brasil. O Citi, que atende 550 famílias brasileiras com pelo menos US$ 10 milhões para investir no banco, contratou cinco executivos no último ano em São Paulo e Nova York, incluindo Vivien Dias, que trabalhou mais de 10 anos na JPMorgan Asset Management.

"Queremos continuar entregando nos próximos cinco anos o mesmo crescimento robusto de dois dígitos que tivemos nos dois últimos", disse Chicayban em uma entrevista.

O Citigroup vendeu sua divisão de varejo no Brasil para o Itaú Unibanco Holding SA em outubro por um valor anunciado de R$ 710 milhões, como parte do plano do presidente executivo Michael Corbat de reduzir custos e aumentar retornos. O negócio de private banking, que não estava incluído no acordo, foi reestruturado para eliminar serviços como contas bancárias locais e cartões de crédito.

O Citi também dobrou o valor mínimo necessário para ser clientes do banco com relação aos US$ 5 milhões anteriores, seguindo seus novos padrões globais.

O banco perdeu 50 clientes nesse processo de reestruturação, de acordo com Chicayban.

Banco Boutique

"Agora estamos atendendo a um grupo muito exclusivo de pessoas com necessidades globais; somos quase uma boutique de private banking", disse Chicayban. O Citi, com sede em Nova York, tem operações em 98 países, participando de todos os principais mercados, "e isso tem um custo", disse ele.

Novas regulamentações também aumentaram as despesas com controles e compliance no negócio de private banking, disse ele, outra razão pela qual o Citi decidiu aumentar seu foco.

O banco continua oferecendo serviços de assessoria em investimentos e crédito no mercado interno e externo, enquanto o planejamento patrimonial, contas correntes e cartões de crédito são oferecidos apenas fora do país, disse ele. O Citigroup possui equipes dedicadas a clientes brasileiros em Miami, Nova York, Genebra, Londres, São Paulo e Rio de Janeiro, segundo Chicayban, com um total de 60 funcionários.

Perspectivas para os negócios continuam fortes, especialmente depois que programas de anistia fiscal criaram o que a Chicayban chamou de um movimento de "fuga para a qualidade".

"Quando os recursos não eram regularizados, muitas famílias mantinham seu dinheiro em bancos menores, nos quais a principal preocupação era a confidencialidade", disse ele. "Agora, esses clientes podem movimentar seus ativos em todo o mundo e estão buscando bons conselhos, assistência e plataformas internacionais".

Fortunas vieram à tona

O Brasil aprovou uma lei em 2016 permitindo que cidadãos e empresas declarassem ativos mantidos no exterior, após o pagamento de impostos e de uma multa. O programa, que terminou no ano passado, trouxe à tona cerca de US$ 54 bilhões em depósitos estrangeiros, segundo a Receita Federal.

Nos últimos dois anos, o Citigroup atraiu fortunas de brasileiros de outros 15 bancos, disse Chicayban, acrescentando que o banco agora trabalha com 100 family offices, número que triplicou nos últimos cinco anos.

A concorrência de outros bancos internacionais provoca consolidação do setor. No ano passado, o UBS Group AG arrematou a maior multi-family office independente no Brasil, a Consenso Investimentos Ltda. Em janeiro, o Julius Baer Group Ltd. disse que adquiriu 95% do Reliance Group, sediado em São Paulo, também um dos maiores family offices independentes do país.

O Citigroup continuará crescendo ao adquirir equipes de executivos de concorrentes, ao mesmo tempo em que aprofunda as relações com os clientes existentes, disse ele, acrescentando que a disposição de crédito do banco também ajudará.

Fazendo Empréstimos

"Depois de 2009, muitas famílias compraram imóveis nos EUA e na Europa e agora querem usar essas propriedades para levantar dinheiro", disse ele, acrescentando que arte, outros investimentos e aeronaves podem também ser usados como garantia. O Citigroup também pode oferecer crédito sem garantia, dependendo do cliente. Ele está financiando a aquisição de uma propriedade de US$ 30 milhões para um cliente e vai fazer cerca de 40 desses empréstimos este ano, disse ele.

O banco, que tem cerca de US$ 460 bilhões no private banking em todo o mundo, vendeu seu negócio de gestão de fundos para a Legg Mason Inc. em 2005.

"Portanto, não temos nenhum conflito de interesses, nenhuma obrigação de direcionar investimentos para nossos próprios fundos", disse Chicayban. "Podemos sugerir aos clientes os melhores produtos de qualquer empresa de gestão de recursos", disse ele, acrescentando que o banco cobra "apenas uma taxa, e de forma muito transparente".