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Telefónica busca combater alcoolismo com nova iniciativa

Rodrigo Orihuela

16/10/2018 15h21

(Bloomberg) -- No coração da pujante cena de startups de Barcelona, cerca de 70 pessoas trabalham em soluções centradas na tecnologia para problemas que afetam bilhões de pessoas, como o alcoolismo e a falta de eletricidade.

O grupo inclui empreendedores, especialistas e um artista visual, mas não tem o suporte de capital de risco. Essa é a versão da operadora de telefonia espanhola Telefónica para o X, o laboratório de inovação da Alphabet.

Conhecida como Alpha, a iniciativa da empresa, um antigo monopólio, faz parte do esforço do presidente do conselho, José María Álvarez-Pallete, de fazer experimentos com linhas de negócios radicalmente novas, uma fixação singular em um setor cujo histórico de derrotas para as gigantes da tecnologia está fazendo com que a maioria das empresas de telecomunicações prefira manter o foco naquilo que fazem melhor.

"O futuro da Telefónica será escrito na Alpha", diz o CEO da unidade, Pablo Rodríguez, cientista da computação de ofício com mestrado em Física que trabalhou anteriormente na Bell Labs. "É um esforço com o qual ampliaremos nossa ambição e faremos coisas significativas."

Um desses projetos ambiciosos pode estar perto de oferecer uma solução pronta para o mercado. A Alpha e o Massachusetts General Hospital desenvolveram um aplicativo para o tratamento de pessoas que sofrem de uma condição mental chamada transtorno dismórfico corporal, que deixa as pessoas obcecadas com um aspecto do próprio corpo, que elas veem como defeituoso. O aplicativo, chamado Perspectives, está em fase de testes e será apresentado à Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) para aprovação para uso comercial.

O Perspectives é o segundo aplicativo da divisão de saúde da Alpha, dirigida pelo neurocientista Oliver Harrison. O primeiro foi criado para tratar o alcoolismo com base em um tratamento médico chamado treinamento da atenção.

"Há um desafio com grandes ideias que estão nas gavetas", diz Harrison. "No momento, estamos realmente focados em criar um canal, um serviço ao consumidor, que possa ajudar a levar essas ferramentas a milhões, dezenas de milhões, centenas de milhões de pessoas."

A Telefónica está se esforçando para promover uma cultura mais digital e empreendedora, mesmo após alguns equívocos notáveis: a divisão chamada Telefónica Digital, revelada no dia do investidor da operadora em 2012, foi interrompida discretamente; uma parceria com a Mozilla voltada a aparelhos Firefox fracassou após menos de quatro anos; e um fundo de capital de risco de US$ 1,15 bilhão para investimentos no setor de telecomunicações, que havia sido anunciado globalmente em 2015, nunca decolou.

Outras iniciativas digitais são mais difíceis de avaliar. A Telefónica investiu centenas de milhões desde o início da década por meio de aceleradores de startups e fundos de capital de risco, mas não destrincha os retornos. A empresa lançou um assistente de voz com inteligência artificial neste ano, mas não divulgou os detalhes financeiros.

As tentativas das operadoras de fazer frente a empresas de tecnologia como Facebook e Apple em novas áreas de negócios muitas vezes não correspondem às expectativas, diz Victor Font, CEO da consultoria Delta Partners. "É muito difícil para o setor de telecomunicações competir com as gigantes da tecnologia em inovação", diz.