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Demissão na GM mostra que nem Trump pode deter forças do mercado

Matthew Townsend

28/11/2018 14h20

(Bloomberg) -- Donald Trump pode se preocupar com o plano da General Motors para fechar fábricas, eliminar empregos e abandonar modelos. Ele pode até ameaçar, como fez na terça-feira.

Mas, até mesmo para um presidente, é difícil vencer as forças do mercado.

Trump conquistou a Casa Branca graças em grande parte à história que ele contou - que ele conseguiria reverter o declínio industrial dos EUA. Ele prometeu reconquistar os empregos da indústria e do setor de combustíveis fósseis, considerados perdidos como vítimas do comércio global e do excesso de regulamentação.

Mas quase na metade do primeiro mandato de Trump, divergências em relação a seu discurso de "fazer com que os EUA voltem a ser grandiosos" continuam se acumulando, impulsionadas pela tecnologia, pela globalização e pela mudança climática.

Trump está contra-atacando. Na terça-feira, um dia depois do anúncio da GM, ele ameaçou pelo Twitter que cortaria todos os subsídios que a GM recebe, inclusive os incentivos fiscais para a fabricação de veículos elétricos. Larry Kudlow, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, também comentou: "É uma grande decepção que a GM prefira produzir seus carros elétricos na China em vez dos EUA", disse Kudlow a jornalistas pouco antes dos tweets de Trump.

Não está claro se Trump tem autoridade para revogar subsídios sem ação do Congresso. Também é difícil, se não impossível, que Trump consiga superar as dinâmicas que estão levando as empresas a escolher robôs em vez de seres humanos, a descontinuar marcas e a fechar fábricas. Algumas estão optando por produzir mais perto de seus consumidores e cadeias de abastecimento, inclusive na China, enquanto outras estão transferindo linhas de produção para países de custo mais baixo, como o México.

Déficit comercial

Os consumidores também estão preferindo cada vez mais a energia alternativa para carros e residências. À medida que os salários finalmente sobem, os americanos também passaram a comprar mais bens importados, o que eleva o déficit comercial dos EUA, um indicador que Trump usa para avaliar a economia.

"O mercado é um tsunami", disse Seth Kaplowitz, professor de finanças da Universidade Estadual de San Diego. "Se você surfar, você vai se sair bem, mas se você lutar contra essa onda, ela é forte demais."

Trump fez grandes esforços para revigorar indústrias outrora célebres. As empresas de aço e alumínio dos EUA ganharam impostos que prejudicam as concorrentes estrangeiras. Ele atacou a maior rival da Whirlpool, a sul-coreana Samsung Electronics, com tarifas às máquinas de lavar roupa. Para as mineradoras de carvão, Trump está propondo reduzir as regulamentações ambientais da era Obama. Ele também anunciou a redução de impostos corporativos como um elixir para os gastos de capital e a geração de empregos.

As forças do mercado, no entanto, mostraram que são extremamente poderosas. Para Mary Barra, CEO da GM, o plano de fechar um punhado de fábricas mais antigas e dispensar mais de 14.000 funcionários se resumiu a uma questão básica de economia. Os consumidores estão evitando sedãs como o Chevrolet Cruze da GM e preferindo picapes e SUVs. Com algumas fábricas operando apenas um turno por dia, a GM anunciou que precisava reduzir sua capacidade de fabricar carros tradicionais de passageiros e liberar recursos para investir em veículos autônomos e elétricos. A companhia conservará a produção de baixo custo no México.

--Com a colaboração de Justin Sink.