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Samsung vai ao norte em desafio a grandes da computação em nuvem

Sam Kim

29/11/2018 15h53

(Bloomberg) -- O melhor ponto para instalar um centro de dados na Coreia do Sul, pelo visto, também fica perto de um dos lugares mais perigosos do mundo.

A apenas uma hora da fronteira com a Coreia do Norte, em uma área que costumava servir de campo de tiro civil, a Samsung Group está construindo uma instalação com o ambicioso objetivo de desafiar provedores de computação em nuvem consolidados como Amazon, Microsoft e Google.

A postura é familiar para uma empresa que saiu de baixo para liderar o mundo nos ramos de smartphones, televisores e chips de memória. Antes de voltar a mira a rivais maiores, o conglomerado planeja dominar primeiro seu território, ganhando clientes dentro de seu vasto império de cerca de 60 empresas que engloba eletrônicos, construção, seguros e cartões de crédito. E um dia a instalação pode até servir de degrau para um objetivo ainda mais audacioso: colocar centros de dados na Coreia do Norte, onde as temperaturas mais baixas podem reduzir o custo pago para manter os servidores frios.

"Meu sonho é construir um centro de dados em Kaema", disse Hank Bae, engenheiro que lidera a construção em Chuncheon, em referência ao planalto do norte apelidado de "o teto da Coreia". Lá, as temperaturas durante o inverno podem chegar a 20 graus Celsius negativos. "Eu iria a qualquer lugar que fosse frio, mas por enquanto essa é a nossa melhor aposta para um centro de dados."

Chuncheon, onde a Samsung está construindo o centro de computação em nuvem, ostenta vantagens naturais. O edifício em forma de Y, que fica sobre uma colina cercada por um templo budista, pinheiros e uma base do exército, está situado na região menos propensa a terremotos da Coreia do Sul. A temperatura média é 2 graus Celsius mais baixa do que em Seul, o que ajuda a reduzir os custos de refrigeração em até 80 por cento. O lado negativo do lugar é que fica a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Coreia do Norte, onde estão posicionados centenas de milhares de soldados.

Como as relações entre Seul e Pyongyang continuam melhorando, algumas pessoas dentro da Samsung esperam que os futuros centros de dados possam ser instalados na Coreia do Norte, além da zona desmilitarizada, se os países forem reunificados. Talvez algum dia isso possa acontecer. Jay Y. Lee, vice-presidente do conselho da Samsung Electronics, visitou a Coreia do Norte em setembro como parte de uma delegação empresarial liderada pelo presidente sul-coreano, Moon Jae-in.

Com a desaceleração do mercado de smartphones e a expectativa de fim da explosão dos preços dos chips de memória, a computação em nuvem oferece uma opção atraente para a Samsung. Além de estar crescendo, considerando que a consultoria Gartner prevê que o mercado de serviços de infraestrutura deverá mais que dobrar até 2021, para US$ 83,5 bilhões, braços da Samsung já fabricam peças importantes, como a tecnologia de armazenamento de dados.

"A era da nuvem está chegando, então, se não apostarmos nisso, seremos eliminados do mercado", disse Kim Ho, vice-presidente da Samsung SDS, braço de software e negócios em nuvem do grupo que está à frente do projeto. Lee é o maior acionista individual da SDS.

--Com a colaboração de Adrian Leung.