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Dúvida nos EUA é se pausa é temporária ou se juro atingiu o pico

Craig Torres e Alex Tanzi

22/01/2019 13h59

(Bloomberg) -- Poucas vezes foi tão fácil decifrar as intenções dos figurões do banco central americano. Um atrás do outro prega paciência antes da próxima mexida nos juros. Mas uma pergunta mais difícil surgiu sobre o plano do Federal Reserve de pausar o aperto monetário: Trata-se de pit stop ou pico?

Após nove elevações nos juros desde dezembro de 2015, a sinalização dos representantes do Fed migrou de aperto "gradual" para uma postura "paciente" (palavra usada pelo presidente Jerome Powell em 10 de janeiro e repetida por vários colegas dele desde então). O coro incluiu até a comandante do escritório regional da instituição em Kansas City, Esther George, que costuma apresentar uma visão mais agressiva e tem voto no comitê de política monetária neste ano.

Os mercados financeiros precificam alta probabilidade de a taxa básica de juros não se mover em 2019. Já os representantes do banco central estabeleceram uma estimativa mediana de dois acréscimos ou mais. Estreitar essa distância será desafiador e pode haver volatilidade se o Fed resolver subir os juros novamente.

"A esperança do Fed é que os dados sejam bem claros'', disse Michael Gapen, economista-chefe para os EUA do Barclays. "Eles precisarão reengajar os mercados e informar que vão apertar um pouco mais."

Gapen, Omair Sharif, do Société Générale, e outros economistas estão empurrando as previsões de acréscimos nos juros para o segundo semestre de 2019.

Os dados do primeiro trimestre ficarão confusos por causa da paralisação do governo americano. A inflação se encontra pouco abaixo da meta de 2 por cento. A ata da reunião do Fed de dezembro apontou até cinco riscos de decepção, incluindo a escalada da tensão comercial, a desaceleração do crescimento global e condições financeiras mais restritas nos EUA.

"Agora é o momento perfeito para não fazer nada", disse Sharif.

Para o Fed, paciência significa que a economia vai ditar se e quando agir. Há justificativas para os dois lados:

Pit stop

Nada sugere que o mercado de trabalho dos EUA tenha perdido a força. Foram criados 2,6 milhões de empregos no ano passado, sendo 312.000 em dezembro. O quadro sustenta a confiança e o consumo, que é o principal motor do crescimento econômico no país.

As empresas estão oferecendo mais benefícios e salários maiores para atrair e reter funcionários. Se continuar neste ritmo, alguns economistas acham que a inflação será impactada, obrigando o Fed a implementar elevações mais graduais nos juros.

O estímulo fiscal também influencia o panorama de crescimento. O impulso proporcionado pela redução no imposto de pessoa física e jurídica está menos visível, ressaltou Ryan Sweet, responsável por pesquisa de política monetária da Moody's Analytics. Porém, a agência calcula que o aumento do gasto público pode adicionar até 0,4 ponto percentual ao PIB neste ano.

"Eu me surpreenderia se este for o pico do ciclo de aperto'', disse Sweet.

Carl Riccadonna, Bloomberg Economics, diz que as autoridades estão amplamente unificadas pedindo uma pausa. Persistem diferenças de opinião a respeito da trajetória em um horizonte mais longo. A Bloomberg Economics antecipa que haverá necessidade de retomada de uma quantia moderada de aperto adicional perto do meio do ano, à medida que condições robustas do mercado de trabalho contribuem significativamente para a resistência da economia.

Pico

Um dos principais argumentos para não se mexer mais na taxa é a assimetria de riscos, explicou Laurence Meyer, que já foi diretor do Fed e hoje comanda a Monetary Policy Analytics, emWashington.

Durante a maior parte do período de expansão econômica, a inflação ficou abaixo da meta. Se o crescimento econômico e as projeções dos integrantes do Fed para o ano que vem começarem a diminuir até junho, Meyer acredita que o comitê de política monetária terá receio de apertar mais.

"Estamos em um lugar perigoso'', avisou Meyer. "Há certa fragilidade agora e um choque poderia levar à recessão.''

Ele espera mais um acréscimo nos juros em junho, presumindo que o mercado de trabalho manterá o passo acelerado. Mas Meyer admite que está difícil prever.

Para Constance Hunter, economista-chefe da KPMG LLP em Nova York, a desaceleração global é de longe o principal motivo para esperar que a taxa de juros já tenha chegado ao ponto máximo. Ela acha que o Fed pode começar a cortar em meados do ano, enquanto o consumo na China se retrai. Esse desaquecimento "vai reverberar para todos os países", alertou.