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Dinheiro não basta para reverter queda de produção da Pemex

Amy Stillman

07/02/2019 15h14

(Bloomberg) -- O pacote de ajuda planejado pelo governo mexicano para a Petróleos Mexicanos pode servir como um curativo quando é necessário um torniquete para estancar o sangramento.

A Pemex, a petroleira mais endividada do mundo, viu sua produção anual de petróleo atingir no ano passado o menor nível desde 1990, pelo menos, e na semana passada a Fitch Ratings rebaixou os títulos da empresa a um nível acima de junk (grau especulativo). Agora, Andrés Manuel López Obrador, o novo presidente do México, promete anunciar em alguns dias um pacote de ajuda financeira para a empresa, que reforçará as isenções fiscais de 66 bilhões de pesos ao longo de seis anos anunciadas no mês passado.

A ajuda é bem-vinda, dizem analistas, mas não convém esperar uma recuperação rápida. Ao mesmo tempo em que destina recursos à Pemex, López Obrador reduziu as reformas energéticas que possibilitam que a empresa compartilhe os custos de desenvolvimento com outras produtoras e suspendeu os leilões que permitiam que empresas de exploração privadas apresentassem ofertas para explorar blocos de petróleo promissores do México.

"É errado supor que o dinheiro conseguirá resolver sozinho os problemas da Pemex, como o uso ineficiente de capital, os problemas operacionais e a má administração de projetos", disse Alejandra León, analista da IHS Markit na Cidade do México. O novo governo "está tentando nadar contra a corrente", disse ela. "Mas agora tudo avançará muito mais lentamente."

Em um momento em que o México deveria estar colhendo os benefícios do aumento da demanda por petróleo bruto após sanções dos EUA à Venezuela e a turbulência no mercado global, o país não consegue sequer produzir petróleo leve suficiente para suas próprias refinarias. Suas reservas comprovadas caíram para apenas um quarto do nível de quase duas décadas atrás.

Alguns tipos de petróleo leve mexicano, como o Olmeca e o Isthmus, desapareceram do mercado internacional devido à queda na produção. E em novembro e dezembro, a Pemex foi obrigada a importar petróleo dos EUA, do campo de xisto de Bakken, em Dakota do Norte, para abastecer suas refinarias. Duas entre seis delas estão fechadas há meses para manutenção.

"A Pemex tem muito pouca capacidade há muitos anos, mas as reformas eram uma luz no fim do túnel que agora está sendo desligada", disse León, da IHS Markit. "Há muito pouca confiança no que a Pemex fará no futuro."

A maior descoberta em terra da Pemex nos últimos anos, o campo de Ixachi, de um bilhão de barris, que promete adicionar 80.000 barris diários de condensado e 20,3 milhões de metros cúbicos por dia de gás em quatro anos, será desenvolvido sem parceiros, informou a Pemex. Mas os analistas estão céticos.

"O Ixachi é o único projeto do plano de desenvolvimento acelerado da Pemex que tem algum potencial grande, e não há ninguém no México com experiência para desenvolvê-lo, porque é de alta pressão e de alta temperatura", disse John Padilla, diretor-gerente da consultoria de energia IPD Latin America.

As medidas fiscais poderiam "ser úteis para campos marginais, ativos com os quais se ganhava pouco dinheiro ou, em alguns casos, se perdia dinheiro", disse Pablo Medina, vice-presidente da Welligence Energy Analytics em Houston. Mas "o que é realmente necessário", disse ele, "é um enorme programa de venda de direitos de concessão" que permita que a Pemex divida o custo de projetos maiores com produtoras privadas e tenha acesso aos conhecimentos delas.