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Exportações de soja dos EUA devem levar anos para se recuperar

Shruti Date Singh

15/02/2019 14h59

(Bloomberg) -- As exportações de soja dos EUA só retornarão ao pico anterior à guerra comercial na temporada 2026-2027 já que os concorrentes sul-americanos estão ganhando participação no mercado global.

É o que apontam as projeções de longo prazo divulgadas na quinta-feira pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) em seu website. A perspectiva leva em conta a manutenção das tarifas retaliatórias impostas pela China.

A demanda pela soja americana ficou abalada depois que a China aplicou tarifas a uma série de produtos agrícolas dos EUA como parte da guerra comercial entre os países. Ao mesmo tempo, a produção aumentou em concorrentes como o Brasil, o maior exportador do mundo.

"A produção recorde e as questões comerciais estão reduzindo nossa expectativa para a exportação de soja em relação à projeção do ano passado", disse o economista-chefe do USDA, Robert Johansson, em entrevista por telefone, na quinta-feira.

Entre os demais fatores que limitam o crescimento das exportações está o maior consumo doméstico para ração animal e o interesse "brando" dos agricultores, em comparação com o ano passado, em expandir a área plantada e a produção, disse. As moedas relativamente mais fracas do Brasil e da Argentina também têm aumentado o apelo da oferta desses países no exterior, disse ele.

Retorno recente

Apesar de a China ter voltado a comprar soja dos EUA recentemente, a aquisição não mexeu muito nos preços. As compras foram tão pequenas que não compensaram as vendas perdidas. Enquanto isso, devido à colheita abundante, os silos e depósitos de grãos do Centro-Oeste do dos EUA estão cheios. Os contratos futuros da soja negociados em Chicago caíram cerca de 12 por cento nos últimos 12 meses.

Os produtores americanos -- que compõem a base que ajudou a dar a vitória eleitoral a Donald Trump -- foram vítimas não intencionais de muitas políticas do governo. Depois que a guerra comercial provocou declínios nos preços das culturas, o presidente liberou pagamentos para ajudar a amenizar o golpe.

A expectativa é que a renda líquida agrícola chegue a US$ 77,6 bilhões neste ano, contra US$ 69,2 bilhões no ano passado, mas que permanecerá abaixo de US$ 80 bilhões até 2028, segundo projeções do USDA.

"Se as tarifas fossem canceladas, a perspectiva seria melhor devido aos níveis maiores de comércio", disse Johansson. "Se não tivéssemos tarifas em vigor, as exportações seriam mais altas e a receita agrícola provavelmente também seria maior."

Terminou nesta quinta-feira o prazo para os agricultores solicitarem a ajuda vinculada às tarifas pelo chamado programa de facilitação de mercado.

"Os resgates realmente ajudaram algumas pessoas", disse Lynn Rohrscheib, presidente da Associação da Soja de Illinois, em entrevista à Bloomberg Television, nesta semana. "Mas a maioria dos produtores simplesmente não queria isso. Queremos poder ampliar a produção e receber um preço justo."

Rohrscheib disse que alguns produtores não estão cultivando neste ano por causa das tarifas e que sua família "sofreu um corte de US$ 600.000 na renda anual" como resultado da guerra comercial.