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Subsidiária de petroleira venezuelana nos EUA mergulha no caos

David Wethe e Margaret Newkirk

15/02/2019 14h49

(Bloomberg) -- Atrás de uma cerca de aço, passando por seguranças e uma estátua de bronze de camponeses que trabalham para criar um heroico futuro socialista, fica um dos poucos prêmios que restam da arruinada economia da Venezuela.

E esse prêmio fica em Houston, não em Caracas.

Dentro da caixa de vidro que é a sede da Citgo Petroluem, a subsidiária americana da gigantesca estatal Petróleos de Venezuela, desenrola-se um drama corporativo que reflete o do assolado país.

Embora a produção da PDVSA tenha caído quase pela metade em quatro anos, as refinarias de gasolina da Citgo no Texas, na Luisiana e no Illinois representam cerca de 4 por cento da capacidade de produção de combustível dos EUA e a parte que melhor funciona de uma operação caótica. Mas os trabalhadores estão divididos entre os fiéis ao tirano Nicolás Maduro e os leais a Juan Guaidó, que afirma ser o presidente legítimo e, nesta semana, nomeou um outro grupo de membros do conselho.

Caos

Seis ex-executivos da Citgo estão presos no centro de inteligência militar em Caracas e um ex-diretor da empresa morreu sob custódia. Clientes e vendedores ficaram assustados com as medidas tomadas pelos EUA contra o país. Na semana passada, um agente armado vigiava o saguão do prédio em Houston após a saída apressada de venezuelanos sancionados. Enquanto isso, os técnicos têm se empenhado em continuar com suas rotinas de trabalho e evitam escrupulosamente falar sobre política, na esperança de que a situação fique mais tranquila no futuro.

Entrevistas com funcionários e ex-funcionários nas sedes e nas refinarias revelaram uma empresa em um ponto de inflexão. Por enquanto, a Citgo está isenta da interferência política, do nepotismo e da corrupção, mas não tem líderes para traçar o caminho a seguir. A maioria dos trabalhadores falou sob condição de anonimato pelo receio de represálias contra eles ou contra colegas, como demissões, assédio a familiares ou até mesmo prisão por um regime acusado de violar os direitos humanos e assassinar.

"Estamos no limbo", disse um alto executivo americano. A empresa estava contida pela PDVSA, disse ele, mas agora os funcionários podem se concentrar nas operações e "acabar com toda essa loucura".

As assessorias de imprensa da PDVSA e da Citgo não responderam a e-mails e recados telefônicos com pedidos de comentários sobre as operações e os trabalhadores da empresa.

Receita necessária

A PDVSA adquiriu o controle da Citgo em 1990 e transferiu a sede com 800 trabalhadores de Tulsa, Oklahoma, para Houston em 2004. Nenhuma das duas empresas publica relatórios financeiros, mas entre 1998 e 2013 a Citgo pagou US$ 9,3 bilhões à PDVSA, segundo relatório de novembro do Grupo Orinoco, uma organização de pesquisa sobre energia em Caracas.

Agora, Maduro precisa desesperadamente da receita da Citgo. A hiperinflação deixou o bolívar praticamente sem valor, e alimentos e remédios são escassos. Maduro até hipotecou a empresa para conseguir moeda forte: as ações de uma companhia controladora servem de garantia para alguns títulos da PDVSA e um empréstimo de subsistência da russa Rosneft Oil.

Muitos trabalhadores da Citgo, tanto americanos quanto venezuelanos, esperam que o caos acabe sendo uma libertação e possibilite que uma empresa competente se livre de uma política perniciosa.

"Talvez nos emancipemos", disse um executivo da empresa. "Há esperança para o futuro."

--Com a colaboração de Lucia Kassai, Fabiola Zerpa e Brian Welcher.

Repórteres da matéria original: David Wethe em Houston, dwethe@bloomberg.net;Margaret Newkirk em Atlanta, mnewkirk@bloomberg.net