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Pioneira da internet no Japão é maior empresa da área no país

Reed Stevenson

18/02/2019 12h47

(Bloomberg) -- Ela foi uma das empresas mais abomináveis do Japão, tendo abalado o país com um escândalo corporativo que derrubou um primeiro-ministro, e depois quase desmoronou sob uma montanha de dívidas.

Agora, a Recruit Holdings está de volta, reinventada por um grupo de funcionários que, discretamente, transformou a editora de revistas e empresa de busca de empregos em um gigante da internet ligado à vida de quase todos os consumidores da terceira maior economia do mundo.

Se a Recruit fosse uma empresa dos EUA, seria como ter LinkedIn, Zillow, Yelp, eHarmony, Booking.com, Square e dezenas de outros aplicativos -- todos sob o mesmo teto.

"Estamos presentes sempre que as pessoas decidem fazer algo", disse o CEO da Recruit, Masumi Minegishi, de 55 anos.

Em um momento em que as maiores empresas de internet competem pelo domínio do mundo com aplicativos que monitoram os consumidores e usam inteligência artificial para processar dados e fornecer serviços sob medida, a Recruit é a principal concorrente japonesa. Com um valor de cerca de um décimo do valor da Alibaba Group Holding e que mal chega a 5 por cento do valor da Amazon, a companhia enfrenta gigantes. Mas o objetivo de Minegishi é atrair o maior número de consumidores do mundo até 2030 e ele aposta que a Recruit tem recursos e experiência para ser um rival de peso.

"A Recruit foi uma pioneira da internet, tendo lançado seu primeiro site no mesmo mês que a Yahoo, em 1995", disse Sandra Sucher, professora da Faculdade de Administração de Harvard que publicou um estudo de caso sobre a empresa no ano passado. "Eles não são novatos -- eles sabem como alavancar novas tecnologias."

Criada há mais de meio século durante o boom econômico do Japão, a Recruit se tornou abominável na década de 1980, quando seu fundador, Hiromasa Ezoe, criou um esquema de troca de favores para facilitar acordos corporativos e obter informações privilegiadas. Ele concedeu a mais de 70 políticos e líderes empresariais ações de uma subsidiária que estava prestes a abrir o capital, o que rendeu uma fortuna para muitos deles.

O incidente

Quando os subornos do "Recruit jiken", ou "incidente da Recruit", vieram à tona, até mesmo ministros do país foram implicados, obrigando o primeiro-ministro Noboru Takeshita a renunciar. Depois, na década de 1990, a explosão da bolha de ativos do Japão e as apostas imobiliárias especulativas de Ezoe mergulharam a empresa em uma dívida de US$ 14 bilhões, o que levou à sua renúncia e à venda de uma participação majoritária à varejista japonesa Daiei.

Essa experiência deixou a Recruit nas mãos de seus funcionários quando a era da internet estava começando e eles logo começaram a transferir os serviços de recrutamento de emprego e as publicações para a web.

Agora, quando os 124 milhões de habitantes do arquipélago procuram um emprego, um apartamento ou um corte de cabelo, a maioria usa um dos 200 sites e 350 aplicativos da Recruit. Todas as revistas da empresa, como o guia de viagens "Jalan", a "Travail" para mulheres que procuram emprego e a "Car Sensor", um volume de quase oito centímetros de espessura que ocupava uma pilha de quase 1 metro de altura nas livrarias, agora estão on-line.

Essa constelação de portais web, aplicativos e sua unidade de busca de empregos deram à Recruit uma avaliação de cerca de US$ 46 bilhões, três vezes mais do que a da Yahoo Japan e quatro vezes mais do que a da Rakuten, suas concorrentes mais próximas na web e no comércio eletrônico. A Recruit abriu o capital há cinco anos, depois de pagar sua enorme dívida e recomprar algumas de suas ações da Daiei.