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Dispersos pelo mundo, ex-petroleiros da PDVSA avaliam retorno

Michael McDonald, Fabiola Zerpa e Michelle Kim

15/03/2019 14h14

(Bloomberg) -- Agora que colocou um conselho administrativo alternativo da Petróleos de Venezuela de sobreaviso, Juan Guaidó precisa que alguns milhares de funcionários do exterior estejam prontos para vir ao resgate.

Além disso, ele precisa de muito dinheiro. Mas montar uma equipe com ampla experiência e conhecimento, como a equipe de Guaidó tenta fazer, pode ser a parte mais difícil. Boa parte dos profissionais da PDVSA foram embora há mais de uma década para assumir empregos em outros países. A folha de pagamentos foi reduzida quando operários e caminhoneiros se uniram ao êxodo de um país em crise econômica e política.

Revigorar essa combalida empresa estatal é fundamental para qualquer plano para o futuro caso o líder da Assembleia Nacional seja bem-sucedido em seu empenho, que já dura três meses, de derrubar o regime de Nicolás Maduro. A reversão da queda da produção exigirá, segundo muitos, o retorno de exilados familiarizados com as peculiaridades do negócio no país que detém as maiores reservas comprovadas do mundo.

"Não é tão fácil quanto parece", disse Luis Salas, que foi gerente de perfuração em plataformas da PDVSA por 13 anos. "Promessa e realidade são duas coisas diferentes."

A diáspora é global, com ex-executivos e técnicos em novas carreiras pela América Latina, nos EUA e no Canadá. Alguns desembarcaram no Golfo Pérsico, onde os países estão recrutando os profissionais que ainda restam em Caracas.

"Todos os dias vemos mais venezuelanos chegando à Arábia Saudita", disse Alejandro Ramírez, ex-analista financeiro da PDVSA, atualmente consultor financeiro da Saudi Aramco, a petroleira nacional saudita, em Dhahran.

Apesar das atrações óbvias -- como o clima idílico de Caracas ou a chance de voltar a desfrutar das arepas e cachapas que comiam na infância --, muitos refugiados resistiriam ao retorno. "Moro no exterior há 20 anos", disse Ramírez. Suas duas filhas nasceram nos EUA e cresceram na Arábia Saudita. "Não sei se voltaria."

A busca por candidatos para compor uma nova PDVSA é feita, entre idas e vindas, há 15 anos. Tudo começou em 2003 após a demissão em massa de 18.000 empregados que participavam de uma greve para exigir eleições antecipadas em desafio ao então presidente Hugo Chávez. A associação Gente del Petróleo, que mantém um banco de dados de ex-funcionários, foi criada no ano seguinte.

A busca recomeça sempre que a oposição parece estar avançando. O esforço está "ganhando força agora" graças a Guaidó, disse Juan Fernández, diretor de planejamento e risco da PDVSA até 2003, que mora em Miami.

Não há dados confiáveis sobre o número de funcionários que continuam no negócio. A Gente del Petróleo contatou milhares, disse Fernández, enviando pesquisas com perguntas sobre os cargos atuais e para avaliar o interesse em ajudar a reconstruir a PDVSA. "Temos coletado dados sobre pessoas que estão fora da Venezuela e conversado com a equipe de Guaidó a respeito de como canalizar melhor os recursos humanos", disse.

Se Maduro sair, disse Néstor Zerpa, assessor sênior da CNOOC em Calgary, ele consideraria a possibilidade de ajudar um novo governo a reformular a PDVSA, pelo menos temporariamente. Ele foi demitido do cargo de gestão de uma refinaria na Venezuela depois que aderiu à greve contra Chávez. Não foi fácil, reconheceu, recomeçar em um lugar com temperaturas muitas vezes abaixo do ponto de congelamento, condição bastante diferente da de Caracas.

"Foi preciso algum ajuste", disse. Mas no Canadá "você tem liberdade, segurança e uma boa vida."

--Com a colaboração de David Wethe e Robert Tuttle.

Para contatar o editora responsável por esta notícia: Marisa Castellani, mcastellani7@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Michael McDonald em Guatemala City, mmcdonald87@bloomberg.net;Fabiola Zerpa em Caracas Office, fzerpa@bloomberg.net;Michelle Kim em N York, mkim651@bloomberg.net