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Fraude universitária desilude americanos que lutam para vencer

Ben Steverman, Sophie Alexander e Janet Lorin

15/03/2019 11h49

(Bloomberg) -- Adam Oubaita é um garoto-propaganda da meritocracia americana. Ele cresceu no Queens, filho de uma imigrante russa e de um mali-marroquino que se conheceram em Nova York. Ele se saiu muito bem em uma prova da cidade de Nova York e conquistou uma vaga em Stuyvesant, uma das escolas públicas do Ensino Médio mais seletivas dos EUA.

Em Stuyvesant, Oubaita acompanhou o ritmo de professores notoriamente exigentes, enquanto escrevia para o jornal da escola, participava do programa de simulação das Nações Unidas e trabalhava meio período como caixa em uma joalheria. Por conta própria, ele estudava todos os dias para o exame universitário SAT usando ferramentas on-line gratuitas e livros da biblioteca. No fim das contas, o estudante de 18 anos tirou 1590 no teste, 10 pontos menos que a nota máxima, e agora dá aulas para outros alunos.

No entanto, agora Oubaita e outros excelentes estudantes de origens modestas - os americanos que lutam para vencer na vida - estão questionando um sistema que deveria recompensar a determinação. O sentimento de traição é mais profundo entre os alunos menos privilegiados das instituições mais rigorosas do país, como escolas de exames em Nova York, Boston e Virgínia, e em todos os tipos de escolas públicas de alto desempenho.

Nesta semana, promotores federais acusaram dezenas de pais de trapacear para que seus filhos entrem em universidades de elite, como Yale, Georgetown e Stanford. O governo afirmou que os pais coletivamente pagaram milhões para burlar os testes de admissão e subornar treinadores universitários a fim de obter um tratamento especial para seus filhos como atletas, mesmo que alguns deles não pratiquem esportes. Eles obtiveram tempo extra nos testes SAT e ACT alegando que os jovens portavam deficiências inexistentes, pagaram para que um inspetor corrigisse as respostas erradas ou pagaram para que outra pessoa fizesse os testes no lugar dos jovens.

Mudar de vida

Estudantes de baixa renda têm motivos para enfatizar a qualidade das faculdades em que foram admitidos, disse Richard V. Reeves, membro sênior da Brookings Institution. Para um adolescente rico, matricular-se em uma faculdade um pouco menos prestigiosa tem um efeito insignificante no sucesso de sua carreira depois da faculdade, segundo uma pesquisa. No entanto, disse ele, "se você for um garoto de uma família de classe média ou da classe trabalhadora e conseguir entrar em uma faculdade de elite, isso muda suas chances na vida".

Sandra Timmons vê essas transformações de perto. Ela é presidente de A Better Chance, uma organização sem fins lucrativos que ajuda estudantes de baixa renda de 6 a 12 anos - muitos deles, membros de grupos minoritários - a entrar nas melhores escolas particulares e, posteriormente, em universidades como Yale e Harvard. O escândalo das admissões fraudulentas desencoraja esses alunos.

"O fato de que muitos dos controles e proteções não estejam em vigor ilustra o quanto o campo de jogo pode ser desigual", disse ela. "Isso enfraquece essa crença para aquele jovem que já acha que tem menos chances. Eles passam a pensar que não tem jeito, que o sistema não é justo."

Não é fácil encontrar alunos de meios pobres, ou até mesmo de classe média, nos campi de elite. As universidades da Ivy League recrutam mais estudantes do 1 por cento mais rico da população do que dos 50 por cento mais pobres, de acordo com uma pesquisa do economista de Harvard Raj Chetty e outros.

Embora as taxas de participação na faculdade para estudantes de meios pobres tenham aumentado de modo geral nos últimos 15 anos, a parcela de estudantes de baixa renda nas chamadas faculdades de alta mobilidade caiu, segundo a pesquisa de Chetty.

Repórteres da matéria original: Ben Steverman em New York, bsteverman@bloomberg.net;Sophie Alexander em N York, salexander82@bloomberg.net;Janet Lorin em N York, jlorin@bloomberg.net