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Um ano depois, tarifas de Trump sobre metais decepcionam

Joe Deaux, Jack Farchy e Masumi Suga

25/03/2019 15h04

(Bloomberg) -- Até agora, as guerras comerciais não parecem tão "boas e fáceis de vencer" quanto o presidente Donald Trump prometeu um ano atrás, quando impôs tarifas sobre aço e alumínio importados pelos EUA.

Seu resultado é ambíguo. Os lucros das siderúrgicas Nucor e United States Steel aumentaram significativamente em 2018. Já as fábricas que compram metal - especialmente a Caterpillar, uma das três maiores exportadoras do país - reclamam que as tarifas impactaram negativamente os lucros, motivaram demissões e forçaram algumas empresas a reorganizar as cadeias de suprimentos usando menos mão de obra americana.

Um índice que acompanha as compras de insumos pela indústria dos EUA (PMI) vem caindo consistentemente desde agosto e, em fevereiro, atingiu a menor pontuação desde a eleição de Trump.

A indústria mostrou "muito impulso na virada de 2017 para 2018", disse John Mothersole, analista da IHS Markit em Washington. "Mas todo aquele impulso se evaporou ao longo do ano."

Na visão dele, as tarifas atuam como um imposto sobre as fábricas americanas e provavelmente prejudicam a economia como um todo. Afinal, há mais empresas que usam o aço como matéria-prima do que produtoras de aço.

Já a atividade industrial global diminuiu em 10 dos 11 meses desde que as tarifas foram implementadas pelos EUA, voltando ao patamar de 2016, segundo o índice JPMorgan Global Manufacturing PMI. O recuo refletiu a pressão sobre o crescimento econômico global após uma freada em 2018, além do receio das autoridades que aguardam maior clareza sobre diversas questões, incluindo tarifas comerciais e a saída do Reino Unido da União Europeia.

Existe apoio às tarifas. O secretário de Comércio americano, Wilbur Ross, minimizou seu efeito negativo. Em entrevista à CNBC, ele disse que a maioria dos americanos não notaria o aumento de preços correspondente às tarifas.

Do outro lado, a maior fabricante mundial de maquinário, a Caterpillar, informou que pode ter perdido mais de US$ 100 milhões em 2018 por causa delas e a cervejaria MillerCoors estima que as tarifas sobre o alumínio elevaram seus custos em mais de US$ 40 milhões.

A fabricante de ferragens Mid-Continent Steel and Wire está demitindo funcionários para compensar o aumento de custos decorrente das tarifas. Já PanelClaw e Nuance Energy, que fornecem suportes de aço para painéis solares, passaram a trazer suportes do exterior em vez de fabricar os equipamentos em solo americano, com mão de obra local.

Outras regiões também foram impactadas.

Europa

Inicialmente, a fúria das siderúrgicas europeias não foi pelo temor de perder acesso ao mercado americano e sim pelo temor de que o aço destinado aos EUA fosse redirecionado para a Europa.

As vendas de aço para a Europa - principalmente pela Turquia - aumentaram 12 por cento no ano passado para o maior nível desde 2007. A União Europeia implementou suas próprias medidas protecionistas, limitando o total importado sem tarifas.

No caso do alumínio, as vendas da Europa para os EUA cresceram, dado que o imposto sobre o produto chinês é maior.

Segundo Gerd Götz, diretor geral da associação European Aluminum, o setor quer um acordo mais amplo que lide com "o excesso de capacidade de produção de alumínio subsidiado pela China".

Ásia

As siderúrgicas asiáticas ainda não sentiram tanto o impacto das tarifas sobre metais. A China, que faz metade do aço produzido no mundo, conseguiu maior controle sobre o mercado interno por meio de reformas estruturais, explicou Yoku Ihara, presidente da firma japonesa de pesquisas Growth & Value Stock Research.

As medidas do governo chinês para estimular a demanda doméstica "funcionaram até agora, mantendo condições favoráveis no mercado de aço", disse Ihara. "Esse fator compensou o efeito das tarifas." No entanto, ele alerta que essas condições podem durar pouco

Análise da Bloomberg Intelligence

Os preços robustos do aço dentro da China ? sustentados por cortes de oferta e pela demanda consistente ? tornam as vendas ao mercado interno mais lucrativas do que as exportações.

-- Yi Zhu, analista de metais e mineração

O impacto para as siderúrgicas japonesas também tem sido limitado, uma vez que muitos de seus produtos foram isentos de tarifas pelo Departamento de Comércio dos EUA.

--Com a colaboração de Thomas Biesheuvel.

Repórteres da matéria original: Joe Deaux em Nova York, jdeaux@bloomberg.net;Jack Farchy em Londres, jfarchy@bloomberg.net;Masumi Suga em Tóquio, msuga@bloomberg.net