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Samsung teve motivos de sobra para adiar chegada do Galaxy Fold

Mark Gurman

23/04/2019 12h20

(Bloomberg) -- A Samsung Electronics anunciou na segunda-feira o adiamento do lançamento do Galaxy Fold, smartphone que se dobra e vira um tablet pequeno, com preço de US$ 1.980 nos EUA. Um aparelho emprestado à Bloomberg para testes parou de funcionar em dois dias e o modelo substituto revelou outras limitações. Ficou claro porque a gigante sul-coreana tomou tal decisão.

Os problemas na tela do Fold já seriam suficientes para descartar a possibilidade de comprá-lo. Mas as questões são mais profundas. Como telefone, não é bom o bastante. Como tablet, tem muitas desvantagens. O Galaxy Fold é uma curiosa demonstração do que pode ser possível para os dispositivos móveis - daqui a alguns anos.

O primeiro modelo Fold enviado para avaliação da reportagem chegou em 15 de abril e foi recebido com empolgação. Em um mundo dominado por retângulos negros brilhantes da Apple, Google e outras empresas, a Samsung pelo menos estava tentando algo diferente.

Mas logo as concessões do projeto ficaram evidentes. Quando dobrado, o aparelho é grosso e desajeitado, com o dobro da espessura de um smartphone convencional. A tela de 4,3 polegadas é útil basicamente para fazer e receber chamadas, sendo estreita demais para digitação de mensagens mais longas.

Desdobrado, o aparelho revelou um monitor grande, brilhante e colorido. Mas foi aí que falhas graves vieram à tona. A tela interna veio com uma película plástica fina e frágil, como as que cobrem TVs e outros eletrônicos novos ainda dentro da caixa. Essa camada protetora começou a descolar do canto esquerdo do aparelho e o instinto do usuário foi removê-la. Assim que a película saiu, a tela começou a falhar quase imediatamente. A Samsung não avisou que era preciso manter a película e a embalagem não trazia esse alerta.

Um dia depois, o lado esquerdo do monitor parou de funcionar e, mais tarde, o escuro cobriu três quartos do lado direito. Na manhã seguinte, toda a tela dobrável estava morta.

Uma fina película não deveria determinar se um aparelho de US$ 1.980 funciona ou entra em colapso.

Após diversas reclamações de avaliadores, a Samsung pediu para buscar o Fold quebrado na quinta-feira e enviou um substituto no dia seguinte. O segundo aparelho não tinha alertas sobre a fundamental proteção de tela, mas a empresa informou depois que isso ficará claro para os consumidores.

Com a proteção de tela, o segundo Fold não foi tão mal quanto o primeiro. Mas já saindo da caixa, a película tinha pequenas perfurações e espaço considerável entre as bordas e o monitor em si, onde pode haver acúmulo de poeira e fiapos. Após dois dias de uso, surgiram marcas suaves na borda da proteção de tela e outras marcas pequenas foram aparecendo. Ou seja, o Fold pode não se manter impecável por muito tempo. Também há muito reflexo, o que dificulta a visualização em determinadas condições de iluminação.

A tela tem um vinco notável no centro, onde dobra, e o vinco é especialmente visível quando se lê uma página de internet ou se digita em um aplicativo.

Mesmo não sendo perfeito, o software foi a melhor parte da experiência proporcionada pelo Galaxy Fold. Muitos aplicativos migraram sem qualquer intercorrência da tela pequena para a tela desdobrada (ainda que haja pouco uso para a tela menor). Algumas funções embutidas no sistema operacional também tiram proveito da tela maior.

Fotografar com um visor maior em uma câmera excelente foi uma ótima experiência. A tela maior foi uma boa pedida para assistir às partidas finais do campeonato de basquete da NBA. A possibilidade de transitar livremente entre três aplicativos funciona bem depois que o usuário se acostuma com a interface.

Após uma semana testando o Galaxy Fold, a impressão é que o aparelho da Samsung é um conceito e não um produto pronto. A ideia de levar um smartphone e um tablet no bolso é fascinante, mas ainda não passa de uma ideia.