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Itaú prevê alta de até 20% em emissão de dívida local em 2019

Felipe Marques

17/05/2019 07h00

(Bloomberg) -- As empresas do país devem acelerar as emissões de debêntures no segundo semestre, levando o volume total de captações corporativas em 2019 ao terceiro ano seguido de recorde. Esta é a previsão do Itaú Unibanco, líder no ranking de coordenadores dessas operações.

O total de operações no ano pode acabar sendo até 20% superior aos R$ 149 bilhões registrados em todo o ano passado, de acordo com Christian Egan, head de global markets e tesouraria do banco. Juros em mínimas históricas estimulam a demanda de investidores por dívida corporativa, o que vai acelerar o ritmo de emissões, disse Egan em entrevista.

"Estamos prevendo um aquecimento na segunda metade do ano", disse ele. "Investidores que estavam parados com títulos do governo por muito tempo agora estão sendo forçados a ir para dívida corporativa."

Para a tese de Egan se confirmar, o mercado local vai ter que correr. Desde janeiro, o volume de emissões de debêntures está 26% abaixo do mesmo período de 2018, de acordo com dados da Bloomberg.

Segundo Egan, as operações que já estão em negociação com os bancos vão mais que compensar o atraso, uma vez que empresas que recorriam ao exterior para emitir títulos com mais liquidez e prazo maior estão conseguindo preços melhores no mercado local.

Um exemplo é a JBS, que estuda fazer uma emissão de debêntures pela primeira vez em uma década. A Eletrobras também pretende captar até R$ 4 bilhões em debêntures com prazo de até 10 anos. O presidente da estatal, Wilson Ferreira, disse em evento que o mercado doméstico oferece agora condições melhores do que o exterior.

"Dois anos atrás, seria difícil para empresas captarem US$ 250 milhões em títulos de cinco anos no mercado local", disse Egan. "Agora, os prazos dos papéis chegam a 15 anos e algumas emissões recentes passaram da marca de US$ 1 bilhão."

A aprovação da reforma da Previdência também pode ajudar a elevar o fluxo de recursos para o mercado de debêntures. Egan estima que a primeira votação do projeto na Câmara pode ocorrer no início de setembro, com um texto final que represente economia entre R$ 650 bilhões e R$ 975 bilhões para as contas do governo em dez anos - ante a proposta atual do governo, que projeta corte de gastos de mais de R$ 1 trilhão.

"Vai haver volatilidade de agora até agosto, mas estou otimista com o resultado da reforma", disse Egan.

Entre as classes de ativos, o mercado acionário é o que mais deve se beneficiar de uma bem-sucedida reforma da Previdência, disse o executivo do Itaú. Para ele, isso aconteceria porque investidores estrangeiros têm hoje uma exposição pequena a ações brasileiras.

Para o real, a expectativa de Egan também é de ganhos, porque a moeda está desvalorizada quando comparada aos níveis dos CDS, ou credit-default swap, instrumentos que funcionam como um seguro para a dívida do país. Os CDS indicam que o dólar deveria estar entre R$ 3,70 e R$ 3,80. A moeda fechou nesta quinta-feira a R$ 4,04, a maior cotação desde 28 de setembro.

"Há muito interesse de investidores estrangeiros pelo Brasil, que esperam o momento certo de aplicar seu capital", disse Egan, que viajou a Nova York esta semana para participar de um evento anual do Itaú com 114 empresas da América Latina e 550 investidores.

(Com a colaboração de Helder Marinho)