Acordo de Itaipu provoca crise política no Paraguai
(Bloomberg) -- O acordo entre Brasil e Paraguai para compartilhar a energia produzida em Itaipu, segunda maior hidrelétrica do mundo, ganhou enormes proporções e provocou uma crise política no governo paraguaio.
O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, aceitou a renúncia do ministro de Relações Exteriores e de três outros membros do governo envolvidos no polêmico acordo que obriga o Paraguai a comprar eletricidade por um preço mais alto da usina de Itaipu, cujo controle é dividido com o Brasil. Críticos dizem que o contrato de quatro anos assinado em maio - mas cujos detalhes só vieram à tona na semana passada, causando dias de protestos - poderia custar ao Paraguai centenas de milhões de dólares.
O Paraguai obtém a maior parte de sua eletricidade, bem como boa parte de sua receita orçamentária proveniente de Itaipu, que gerou aproximadamente 96.586 gigawatt-horas no ano passado. O Paraguai e o Brasil estão prontos para negociar as mudanças no acordo de Itaipu, inclusive as tarifas, até 2023, quando a última parcela do empréstimo para construir o enorme projeto for finalmente paga.
A crise vai "afetar a política interna do Paraguai e moldar a próxima conversa entre os dois países sobre a revisão" do tratado de Itaipu, disse Christine Folch, professora da Duke University que estudou o setor de energia do Paraguai por mais de uma década.
O apoio aberto de Abdo Benítez ao contrato e as promessas do governo de que as tarifas de eletricidade permaneceriam inalteradas não conseguiram acalmar a indignação pública. O jornal ABC Color classificou o caso como um "pacto de transferência". No domingo, Luis Alberto Castiglioni, ainda como ministro de Relações Exteriores até sua renúncia na segunda-feira, procurou abafar a crise anunciando que o governo pediria a rescisão do contrato.
A assessoria de imprensa da presidência do Paraguai não respondeu aos telefonemas e a uma mensagem pedindo comentários.
A saída de quatro membros da administração é um grande golpe para o presidente, mas provavelmente não atrapalhará sua agenda de reformas, disse Francisco Capli, que comanda o instituto de pesquisas First Analisis y Estudios.
"O governo recebeu uma mensagem clara. Os que negociam com o Brasil terão que fazê-lo de maneira totalmente transparente, com capacidade técnica e apoio público ", disse em entrevista por telefone de Assunção.
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