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Facebook pagou terceirizados para transcrever clipes de áudio

Sarah Frier

14/08/2019 07h12

(Bloomberg) — O Facebook pagou centenas de terceirizados para transcrever clipes de áudio de usuários de seus serviços, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto.

A atividade abalou os contratados, que não sabem onde o áudio foi gravado ou como foi obtido - apenas que devem fazer as transcrições disseram as pessoas, que pediram anonimato por medo de perder o emprego. Essas pessoas ouvem conversas de usuários do Facebook, às vezes com conteúdo vulgar, mas não sabem por que o Facebook precisa desse conteúdo transcrito, disseram.

O Facebook confirmou que estava transcrevendo áudio de usuários e disse que não vai mais fazê-lo, devido às investigações sobre essas práticas em outras empresas. "Assim como a Apple e o Google, suspendemos a análise humana de áudio há mais de uma semana", disse a empresa na terça-feira. A companhia afirmou que os usuários que foram afetados escolheram a opção no aplicativo Messenger do Facebook para ter seus chats de voz transcritos. Os terceirizados verificavam se a inteligência artificial do Facebook interpretava corretamente as mensagens, que eram anônimas.

Grandes empresas de tecnologia, como a Amazon.com e a Apple, têm sido criticadas por coletar trechos de áudio de dispositivos de consumidores para que sejam revisados por outras pessoas, uma prática que, segundo críticos, viola a privacidade. A Bloomberg foi a primeira a relatar em abril que a Amazon tinha uma equipe de milhares de funcionários em todo o mundo ouvindo os pedidos feitos por comando de voz à assistente digital Alexa, com o objetivo de melhorar o software. Uma análise humana semelhante foi usada para a assistente Siri, da Apple, e para o assistente do Google, controlado pela Alphabet. Apple e Google já disseram que não vão dar continuidade à prática, enquanto a Amazon informou que permitirá que os usuários escolham se suas gravações podem ser ouvidas por outras pessoas.

A gigante de redes sociais, que acaba de fechar um acordo de US$ 5 bilhões para encerrar uma investigação da Comissão Federal de Comércio dos EUA sobre s suas práticas de privacidade, negou por muito tempo que coletava áudio de usuários para serem usados para anúncios ou ajudar a determinar o que as pessoas veem em seus feeds de notícias. O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, negou a prática em depoimento no Congresso.

"Você está falando sobre essa teoria da conspiração que é circulada de que ouvimos o que está acontecendo no seu microfone e usamos isso para anúncios", disse Zuckerberg ao senador dos EUA Gary Peters, em abril de 2018. "Nós não fazemos isso."

Em respostas ao Congresso, a empresa disse que "acessa apenas o microfone dos usuários se o usuário der permissão ao aplicativo e se eles estiverem usando ativamente um recurso específico que requer áudio (como recursos de mensagem de voz)." A empresa não aborda o que acontece com o áudio depois.

O Facebook não divulgou aos usuários que terceirizados podem escutar suas conversas gravadas. Isso levou alguns deles a considerar o trabalho antiético, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

Pelo menos uma empresa que está analisando as conversas de usuários é TaskUs, uma terceirizada com sede em Santa Monica, Califórnia, com empregados em todo o mundo, disseram as pessoas. O Facebook é um dos maiores e mais importantes clientes da TaskUs, mas os funcionários não podem mencionar publicamente para quem trabalham. Eles usam um código para o nome do cliente: "Prism".

O Facebook também utiliza os serviços da TaskUs para revisar conteúdo que possa violar as políticas da empresa. Também há equipes da TaskUs que trabalham na preparação das eleições e na seleção de anúncios políticos, embora alguns desses funcionários tenham sido recentemente transferidos para a nova equipe de transcrição.

"O Facebook pediu à TaskUs para fazer uma pausa nesse trabalho há uma semana, e foi o que aconteceu", disse a TaskUs em resposta a um pedido de comentários sobre as transcrições.

O Facebook começou a permitir que usuários do Messenger tenham suas conversas transcritas em 2015. "Estamos sempre trabalhando em maneiras de tornar o Messenger mais útil", disse em um post David Marcus, executivo encarregado do serviço na época.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net