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Enquanto o Ártico canadense derrete, minas de ouro se expandem

Danielle Bochove

17/09/2019 15h55

(Bloomberg) -- James Kalluk passou grande parte de sua infância dentro de um iglu no extremo norte do Canadá, perto do Círculo Polar Ártico. Construir esse tipo de casa requer temperaturas baixas o suficiente para congelar os inúmeros lagos da região, uma consistência específica de neve e uma faca de lâmina longa.

"Hoje não há muita neve, e é mais difícil fazer um iglu", disse Kalluk, agora com 70 anos. "Você pode encontrar um local aqui ou ali que seja bom, mas é muito difícil ter neve agora. É diferente."

A perda de neve e gelo está aumentando as temperaturas no Canadá em ritmo muito mais rápido do que no resto do mundo: mais do que o dobro da taxa global de aquecimento, de acordo com uma avaliação científica nacional publicada em abril. Quanto mais ao norte, mais acelerado será o aquecimento. O Ártico canadense é um dos locais de aquecimento mais rápido, aquecendo cerca de três vezes acima da média global. Isso torna o território de Nunavut, no norte do Canadá, uma região do tamanho do México, uma referência para as maneiras inesperadas pelas quais um clima alterado transforma vidas e meios de subsistência.

Em Baker Lake, Nunavut, a cidade de cerca de 2 mil habitantes onde Kalluk mora, quase todos os rendimentos estão ligados direta ou indiretamente a uma mina de ouro próxima, operada pela Agnico Eagle Mines. Como o aquecimento global aumenta o acesso aos ricos recursos naturais da região, Kalluk acredita que a economia local mudará. "Nos próximos anos, haverá mais casas, mais desenvolvimento aqui", disse Kalluk. "Mais pessoas poderão trabalhar."

Esse crescimento pode ser bem-vindo no norte do Canadá, que descongela rapidamente, mas tudo tem um preço. Kalluk se preocupa com a poeira das novas estradas, incomodando as renas que já estão sitiadas devido às temperaturas mais altas e com a poluição da água que afeta os peixes. Esse cabo de guerra ambiental é a história central do norte remoto do Canadá. Depois de viver de maneira sustentável por milhares de anos, os grupos aborígines do país se tornaram os primeiros a serem atingidos pelas mudanças climáticas. Mas também podem se beneficiar mais das oportunidades que surgem.

--Com a colaboração de Eric Roston, Ashley Robinson e Natalie Obiko Pearson.