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Era de "ganhos estratosféricos" acabou, diz presidente do Bradesco

Octavio de Lazari, presidente do Bradesco - Karime Xavier/Folhapress
Octavio de Lazari, presidente do Bradesco Imagem: Karime Xavier/Folhapress

Cristiane Lucchesi

Da Bloomberg

22/11/2019 08h26

Resumo da notícia

  • Octavio de Lazari destaca a queda na taxa de juros e a concorrência das fintechs
  • Estratégia do Bradesco será cortar custos e tentar ganhar escala e participação de mercado
  • Lucro do Bradesco subiu 22% neste ano, até setembro, para R$ 19,2 bilhões

A era dos "ganhos estratosféricos" acabou para os bancos brasileiros, pois as taxas de juros caíram para níveis recorde e a concorrência das fintechs está se intensificando, disse o presidente do Banco Bradesco SA, Octavio de Lazari.

"A gente nunca teve taxas de juros tão baixas no Brasil durante toda a minha vida," disse Lazari em entrevista na sede da Bloomberg em Nova York. "Não sabemos o que isso realmente significa."

A Selic caiu este ano para 5%, de 14,25% em outubro de 2016, ainda alta em comparação com a taxa de 1,75% nos EUA e os níveis negativos na Europa. Mas, descontando a inflação, a taxa do Brasil está mais próxima de 2%, reduzindo as margens de lucro dos bancos. Ao mesmo tempo, empresas novas de tecnologia financeira, como a StoneCo Ltd. e o Banco Inter SA, estão colocando um desafio maior aos grandes bancos estabelecidos do país.

Nesse tipo de ambiente, a estratégia do Bradesco será cortar custos e tentar ganhar escala e participação de mercado, gerando "pequenos lucros em cada um dos diferentes tipos de negócios", disse Lazari, acrescentando que o banco sediado em Osasco - o segundo maior do país em valor de mercado - abriu 1,5 milhão de novas contas correntes este ano.

Mas o próximo ano poderá ser não tão bom. Os ganhos com juros e o crescimento dos empréstimos dos bancos brasileiros podem ser pressionados se o Banco Central continuar cortando as taxas e a economia do país apresentar um desempenho sem brilho, de acordo com Nathan Dean, analista sênior da Bloomberg Intelligence. Os lucros do Bradesco ainda estão bem elevados, subindo 22% para R$ 19,2 bilhões neste ano até setembro, de R$ 15,7 bilhões no mesmo período do ano passado.

Entre as prioridades estão os empréstimos a pessoas físicas, principalmente crédito imobiliário - negócio no qual o Bradesco registrou um aumento de 16% neste ano. Os empréstimos para a compra de automóveis tiveram alta de 18%, de acordo com o banco, que tem cerca de 80 analistas usando big data para coletar e analisar informações sobre clientes, incluindo classificações de risco de crédito. Isso ajudou o Bradesco a acelerar o ritmo de expansão de empréstimos ao consumidor em 24% este ano, disse Lazari.

As taxas de juros dos empréstimos em torno de 51% ao ano para pessoas físicas, segundo o Banco Central, ainda estão bem acima da taxa Selic.

"A maioria do crédito pessoal é tomado à noite ou nos finais de semana, e 52% dessas transações são feitas por telefone celular, então isso é muito barato para o banco", Lazari disse, acrescentando que a necessidade de agências está diminuindo.

Esses números não incluem o Next, o banco digital que o Bradesco criou há cerca de dois anos e meio para enfrentar o crescimento das fintechs. O Next está abrindo cerca de 8.000 novas contas por dia e será segregado do Bradesco em uma nova empresa, para a qual o banco procura um sócio externo, segundo Lazari.

"De dinheiro não precisamos", disse ele. "O que precisamos é de um parceiro estratégico para agregar valor e conhecimento ao Next." Uma oferta pública inicial de ações não está descartada em cerca de três ou quatro anos, disse Lazari.

Cartões de crédito

No negócio de pagamentos com cartão de crédito, Lazari disse que o Bradesco está patrocinando "uma guerra de preços" para competir com empresas de tecnologia como a Pagseguro Digital Ltd. e a StoneCo.

O Bradesco é o maior acionista da processadora de cartões Cielo SA, com uma participação de 30% das ações com direito a voto. E não tem intenção de vender a empresa, disse Lazari.

"O negócio tem uma importância vital para o banco, por causa dos meus clientes corporativos", disse, acrescentando que a Cielo tem sido vista "como uma empresa da velha economia e precisava se reinventar".

Cerca de 70% da receita da Cielo vem de seus maiores clientes, e a processadora de cartão de crédito, com 43% do mercado, agora está tentando atrair mais pequenos e médios comerciantes, segundo Lazari. A empresa vendeu mais de 1 milhão de novas máquinas de cartão este ano e está recuperando participação de mercado que perdeu para as mais recém-chegadas, disse ele.

Esse sucesso não significa um retorno aos anos dourados.

"Esqueça: a Cielo nunca mais terá um lucro anual de R$ 3 bilhões", afirmou Lazari. Em vez disso, os ganhos ficarão mais próximos de R$ 1 bilhão "e isso é bom", segundo ele.

"Meu maior desafio é criar muitos ativos para o banco que nos proporcionem pequenos ganhos", disse Lazari. "Não há mais bala de prata."

—Com a colaboração de Giulia Camillo e Helder Marinho.

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