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Setor de gás de xisto dos EUA enfrenta pior crise do petróleo

Posto de extração de gás de xisto na Califórnia (Estados Unidos) - David Mcnew/AFP
Posto de extração de gás de xisto na Califórnia (Estados Unidos) Imagem: David Mcnew/AFP

Joe Carroll, Rachel Adams-Heard, David Wethe e Kevin Crowley

09/03/2020 13h26

Produtores de gás de xisto dos Estados Unidos nunca enfrentaram uma crise de petróleo como esta.

O racha entre a Rússia e os aliados da Opep na semana passada desencadeou uma guerra de preços. As cotações do petróleo nos EUA registraram a maior queda desde a década de 1990, para menos de US$ 28 o barril, o que deixou amplos segmentos da indústria petrolífera dos EUA no vermelho. Ações e títulos de produtores de gás de xisto eram negociados hoje com perdas. O índice de energia do S&P 500 teve a pior baixa intradiária já registrada.

É um desastre para os chamados "frackers" dos EUA, como Chesapeake Energy e Whiting Petroleum, que já eram negociados em níveis distressed, o que torna a inadimplência e pedidos de recuperação judicial quase certos.

Depois de gastar centenas de bilhões de dólares na última década, o setor tem decepcionado constantemente investidores e acumulado enormes dívidas. Agora, esses produtores estão encurralados, cada vez mais excluídos do mercado de capitais. Bancos já se preparavam para cortar linhas de crédito depois de registrarem perdas contábeis de até US$ 1 bilhão em empréstimos para o setor de gás de xisto no ano passado.

A crise poderia marcar o fim de uma expansão histórica que colocou os EUA em destaque na produção mundial de petróleo. Na segunda-feira, os produtores de gás de xisto Diamondback Energy e Parsley Energy disseram que vão reduzir o número de plataformas de perfuração em resposta à queda dos preços.

O ciclo de expansão e retração é tão antigo quanto a própria indústria do petróleo. O atual colapso dos preços lembra 1986, quando a Arábia Saudita abandonou as tentativas de sustentar um mercado saturado e que bombeava à vontade, fazendo com que os futuros do petróleo caíssem em mais da metade em questão de meses.

Hoje, a Bacia do Permiano produz mais de 5 milhões de barris, volume maior que o do Iraque, e representa mais de 30% da produção total dos EUA. As empresas de gás de xisto resistiram à última grande desaceleração em 2018, tendo reduzido custos e avançado com os planos de perfuração. Desta vez, estão em uma posição financeira mais precária e não podem se dar ao luxo de continuar a expansão em meio ao excesso de oferta.

"Esta indústria deu um tiro no pé com um drástico crescimento da produção de gás de xisto", disse Dan Pickering, fundador e diretor de investimentos da Pickering Energy Partners, gestora de ativos de Houston.

—Com a colaboração de Carlos Caminada, Sayer Devlin e Allison McNeely.

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