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Coronavírus: Chile aposta em quarentenas rotativas e passes de imunidade

Trabalhador desinfeta um ponto de ônibus em Santiago, Chile, na tentativa de evitar propagação de coronavírus - IVAN ALVARADO/REUTERS
Trabalhador desinfeta um ponto de ônibus em Santiago, Chile, na tentativa de evitar propagação de coronavírus Imagem: IVAN ALVARADO/REUTERS

Eduardo Thomson e Philip Sanders

Da Bloomberg

22/04/2020 15h35

A Praça de Armas de Santiago, no centro da cidade, parece um pouco com a Índia nesta semana, com unidades da Polícia e do Exército determinadas a garantir que as rigorosas medidas de distanciamento sejam cumpridas: ninguém se move sem permissão. Algumas quadras adiante, o cenário lembra mais a Suécia, com sua abordagem tranquila contra a pandemia: o mercado de produtos está repleto de compradores e muitas lojas estão abertas.

O Chile, o mais rico da América do Sul, ainda é um país em desenvolvimento, com 30% da força de trabalho na economia informal, mas tem adotado um plano de batalha único que, pelo menos até agora, mostrou ser bem-sucedido.

O Chile possui um sistema de quarentena obrigatória rotativa com base em uma fórmula que combina os novos casos per capita de uma área, o tamanho da população idosa e o acesso a serviços de saúde. E o governo criou "passes de imunidade" que começarão a ser emitidos na próxima semana para os que se recuperaram do Covid-19, permitindo que voltem à força de trabalho.

Autoridades de saúde dizem que o objetivo não é erradicar o coronavírus, mas contê-lo, permitindo que os hospitais possam administrar o surto.

Até agora, o país registra apenas 160 mortes em uma população de 18 milhões. O governo informou 464 novos casos na quarta-feira, em comparação com um pico de 534 em 16 de abril, elevando o total para 11.296. Como em muitos países, é provável que o número real de casos seja bem mais alto.

Embora o total de casos relatados na América Latina ainda seja baixo, os dados oficiais da maioria dos países da região não são confiáveis, como mostrado pelos corpos nas ruas no sul do Equador, desafiando os números do governo.

Testes

O Chile testou uma porcentagem mais alta de seus residentes do que qualquer outro país da América Latina, o que indica que os números poderiam ser vistos com maior confiança. É similar em alguns aspectos à Coreia do Sul, que também bloqueou e abriu seu país em seções, mas o Chile tem muito menos capacidade de teste e não está rastreando os infectados em telefones celulares.

"Esperamos um aumento não exponencial de casos, e é por isso que apertamos e relaxamos" as restrições em alguns bairros, disse Paula Daza, subsecretária de Saúde em entrevista recente ao jornal La Tercera.

Ainda assim, a crise está no estágio inicial, e alguns especialistas acham que o Chile teve principalmente sorte de ter escapado de uma taxa de contágio mais alta.

"Acredito que vamos bem, mas é muito cedo para cantar vitória", disse Paula Bedregal, especialista em saúde pública e professora da faculdade de medicina da Universidade Católica do Chile. "Ainda não estamos no inverno, quando as coisas podem ficar mais complicadas, e o vírus começa a aparecer entre os grupos mais vulneráveis."

Paula acrescentou que faltam informações reais em algumas das áreas mais pobres, o que dificulta saber se o sistema em vigor continuará a ter sucesso.

O plano do governo de emitir passaportes de imunidade para pessoas que se recuperaram será baseado em parte em testes de anticorpos. Isso causa duas preocupações. Uma é que os testes não se mostraram confiáveis em outros lugares. A segunda é que algumas pessoas podem ficar deliberadamente doentes para obter o cartão de imunidade.

No entanto, EUA e outros países disseram que também estudam a alternativa.