Números diários de vírus dizem pouco sobre evolução da pandemia
(Bloomberg) -- Muitos se perguntam se é seguro sair do confinamento. Observar dados diários de novos casos de coronavírus não ajudará muito. Uma melhor indicação pode ser o tamanho das filas nos consultórios médicos.
Para encontrar o equilíbrio certo entre a reabertura da economia e a proteção contra novas ondas da pandemia, países devem se concentrar em mais coisas além dos números diários de infecções e mortes, segundo cientistas. Isso porque estes são indicadores atrasados, que mostram a trajetória do vírus dias ou mesmo semanas atrás. O nível de perigo em tempo real é mais bem visto em indicadores mais diretos.
Na França, por exemplo, o país monitora o aumento do número de chamadas para linhas diretas de médicos e consultas a clínicos gerais, além de dados como internações em unidades de terapia intensiva. Na Alemanha, há um foco maior no número básico de reprodução do vírus, conhecido como R0, que seria um tipo de indicador antecedente. No Reino Unido, o governo tem encomendado pesquisas com pessoas selecionadas aleatoriamente para medir com mais precisão como o vírus pode estar entrincheirado.
Os países "precisam criar uma imagem a partir de uma variedade de fontes, e parte disso são dados de óbito, parte são dados de infecções e talvez parte disso sejam dados de pesquisas", disse Graham Cooke, professor de doenças infecciosas do Imperial College London, que trabalha em uma pesquisa do governo com 100 mil pessoas nesta semana. "Analisar o número de infecções diagnosticadas como tal é bastante difícil de interpretar por si só."
Os casos registrados são um indicador atrasado do impacto de flexibilizar as restrições, pois os sintomas podem levar até duas semanas para aparecer. Então, quando um paciente busca um teste, pode levar alguns dias ou mais para que os resultados saiam, se houver diagnóstico disponível.
Casos confirmados
Enquanto EUA e vários países europeus flexibilizam as regras de confinamento na tentativa de reabrir as economias, a grande questão é se essas medidas levarão a uma segunda onda incontrolável de Covid-19. Aproximadamente 4,4 milhões casos confirmados em todo o mundo - quase certamente um subconjunto das infecções reais - sugerem que apenas uma pequena fração da população mundial até agora contraiu a doença.
A lenta implantação de testes confiáveis de anticorpos, que mostram quem já teve o vírus e possivelmente desenvolveu imunidade, obscurece ainda mais o cenário. Com as economias em risco, os governos não podem se dar ao luxo de esperar muitos meses ou mesmo anos para que surja uma vacina antes de permitirem que uma vida mais normal seja retomada.
A Alemanha divulgou uma estimativa de "R0" - ou R zero - de sete dias de 0,88 na quinta-feira, o que significa que 100 pessoas apenas infectariam 88 pessoas atualmente. Os países tentam manter esse número de transmissão abaixo de 1 para que a doença seja controlada.
"Precisamos apenas olhar o gráfico dos números diários para identificar os problemas" de se basear apenas nesses dados, disse Martin McKee, professor de saúde pública europeia na London School of Hygiene & Tropical Medicine. As médias móveis podem ajudar a "suavizar as flutuações. Esta é a única maneira de entender o que estamos vendo".
©2020 Bloomberg L.P.
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