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Bloqueio e falta de recursos fazem floricultores terem mau momento em Gaza

18/01/2016 10h12

Saud Abu Ramadan.

Gaza, 18 jan (EFE).- Esta temporada foi mais cara do que nunca para Abdullah Siyam cultivar suas flores em Gaza e exportá-las à Europa, principalmente pelas restrições israelenses e a falta de recursos estrangeiros que impulsionavam seu negócio.

"Plantei hortaliças ao invés de flores para não desperdiçar os abonos agrícolas", declarou este agricultor da cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa, que se queixa que há alguns anos a exportação de flores lhe gerava uma enorme renda.

Na última década, Siyam costumava plantar 1,3 hectares com vários tipos de flores, principalmente rosas vermelhas e cravos, mas ultimamente usa 1.000 metros quadrados para cultivá-las e colocá-las no mercado local.

"Costumava vender minhas flores para a Europa e outros países árabes, mas nos últimos dois anos só consigo vendê-las nos mercados daqui", lamentou.

Ficaram para trás os anos nos quais cada hectare cultivado costumava render pelo menos US$ 5 mil (cerca de R$ 20 mil).

"Com as hortaliças consigo somente 20% do lucro que costumava ter", disse Siyam.

Como principal razão da redução ele aponta, em primeiro lugar, as restrições israelenses impostas aos produtos exportados de Gaza à Europa desde 2007.

Com as graves perdas no setor, a única coisa que resta fazer é se conformar com a chance de continuar aproveitando suas terras: "As flores eram nossas lindas embaixadoras nos países europeus e também fonte de renda. Quem vai nos compensar pelas perdas?", questionou.

Antes de entrar nesta fase, a atividade tinha posicionado a faixa mediterrânea como a quinta melhor região do mundo no quesito flores de qualidade, especialmente rosas com aromas diferentes.

A Holanda, por exemplo, costumava patrocinar e destinar fundos a projetos que buscavam estimular o setor e monopolizava a comercialização das flores de Gaza entre os anos 2005 e 2012, razão pela qual cresceram várias explorações durante esse período.

Conforme estimativas de fontes oficiais palestinas, a Holanda doava anualmente US$ 3 milhões (cerca de R$ 12 milhões) para um setor que mirava no exterior e colocava a região no mercado internacional.

O representante do Sindicato para o Cultivo de Flores e Morangos em Gaza, Ghassan Qasem, revelou que em 2012 a Holanda interrompeu o financiamento destes projetos, o que, somado às limitações israelenses à exportação de flores, representaram o fim de uma era.

"Isso representou um duro golpe ao negócio e provocou um grave declive", admitiu, antes de apontar que a alta quantidade de sal nas águas subterrâneas de Gaza e a destruição provocada pelo último conflito com Israel em 2014 arruinaram de vez o futuro no campo.

O cultivo e exportação de flores na Faixa de Gaza teve seu apogeu entre 2003 e 2006, quando os floricultores chegavam a exportar mais de 40 milhões de tipos diferentes por ano à Europa e a países árabes da região.

Em 2007, Israel impôs um duro bloqueio sobre Gaza e declarou a região como território hostil, após a tomada violenta por parte do movimento islamita Hamas, impedindo a exportação de vários produtos, incluindo todas as variedades agrícolas.

Oito anos depois, o bloqueio israelense e a divisão interna palestina elevaram a dados alarmantes as taxas de pobreza e desemprego, de acordo com organismos internacionais.

Em 2013, as autoridades israelenses suavizaram as restrições e autorizaram uma exportação reduzida após pressões internacionais, especialmente da União Europeia, permitindo a exportação de 15 milhões de flores.

O diretor de comercialização do Ministério da Agricultura de Gaza, Tahsin al Saqa, explicou à Agência Efe que em toda a Faixa, atualmente, apenas cinco mil metros quadrados são dedicados ao cultivo de flores para o consumo doméstico.

"O custo de cultivar a flor é muito alto por conta do bloqueio israelense e das restrições impostas na exportação, assim como pela falta de investimento internacional e as altas porcentagens de água subterrânea contaminada", concluiu Al Saqa, que, apesar de tudo, acredita que "a próxima temporada será melhor".