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Sistema de escavação de túneis da Linha 4 é finalista de prêmio internacional

12/09/2016 17h02

Rio de Janeiro, 12 set (EFE).- O sistema de escavação de túneis utilizado na Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro está entre os finalistas na categoria Inovação Técnica do Ano (Technical Innovation of the Year) do ITA Tunnelling Awards 2016, o mais importante prêmio de túneis do mundo.

O sistema foi criado para garantir que a obra fosse desenvolvida com segurança, sem afetar os bairros de Ipanema e Leblon, na Zona Sul da cidade. Com ele foi possível construir os 5,2km de túnel da Linha 4 em subsolo composto por um misto de areia e rocha. Os novos métodos resultaram em uma obra sem desapropriações e com redução dos impactos na superfície.

Os engenheiros da Construtora Norberto Odebrecht (CNO), que inscreveram o projeto no prêmio, serão os brasileiros que vão disputar, nesta categoria, com profissionais de Cingapura, Finlândia, Noruega e Grã-Bretanha. Os vencedores serão anunciados durante cerimônia em Cingapura, no dia 11 de novembro.

A principal inovação foi a criação de um sistema inédito de escavação em solo arenoso. A equipe de engenheiros desenvolveu um sistema adicional específico para condicionamento do solo e mostrou, com isso, que é possível utilizar um Tunnel Boring Machine EPB (Earth Pressure Balance) híbrido em solo de areia com eficiência e segurança. O método alternativo seria o uso de uma tuneladora do tipo Slurry, normalmente utilizada em solos arenosos, porém ele ampliava o risco de recalques severos no solo, o que seria inadequado numa região com tantos edifícios.

"Usamos pela primeira vez no mundo um EPB em solo arenoso em uma região densamente edificada e com grande circulação de pessoas e veículos. Antes, o equipamento só havia sido utilizado duas vezes nesse tipo de solo, mas em trechos curtos e em áreas pouco ou nada povoadas. Para realizar nosso trabalho, criamos um sistema interno para injetar diversos tipos de material para condicionamento do solo durante a escavação, como uma espuma com polímero customizado para o subsolo da Zona Sul do Rio. Isso ampliou a capacidade de operação da máquina EPB em areia, avançando pela primeira vez sua atuação na área da máquina Slurry", explicou Julio Pierri, engenheiro da CNO, coordenador da área de Engenharia do projeto da Linha 4.

No desenvolvimento dessa nova técnica de escavação, Julio Pierri trabalhou ao lado dos engenheiros Alexandre Mahfuz e Carlos Henrique Turolla, também da CNO, com apoio da consultora MTC. "O desafio era imenso. Tínhamos que construir o túnel debaixo do leito das ruas, sem passar por baixo de nenhum prédio e com o menor risco possível de recalque para os edifícios, que em alguns trechos estavam a apenas 12m do túnel. Não tínhamos como usar o Tatuzão Slurry, normalmente utilizado em solos arenosos, porque era muito arriscado pela possibilidade de provocar recalques severos e pela maior complexidade de operação. O EPB também não tinha um sistema de condicionamento de solo adequado às necessidades do projeto. Por isso, a saída foi desenvolver um modelo específico para aquela região", complementa Mahfuz.

O EPB híbrido possibilitou trabalhar com controle da pressão na frente da máquina e minimizar a possibilidade de recalques na superfície e edificações do entorno, além de proporcionar uma considerável redução no volume de materiais usados no condicionamento do solo e no consumo de energia. A aplicação desta tecnologia permitiu ainda reduzir a área de apoio à operação do equipamento, principalmente em uma região densamente urbanizada da cidade e com um dos metros quadrados mais caros do país.

Com a utilização do 'Tatuzão' EPB híbrido foi possível cruzar uma geologia complexa com eficiência e segurança, diminuindo os riscos de instabilidade. O terreno dos túneis incluía uma longa extensão de areia de praia delimitada por dois trechos de rocha altamente abrasiva. A máquina tem 2,7 mil toneladas e 123m de comprimento por 11,5m de diâmetro, o equivalente a um prédio de quatro andares e é a maior já utilizada na América Latina. Foi fabricada sob medida pela alemã Herrenknecht.

Considerado o "Oscar" dos tuneleiros, a premiação é concedida pela International Tunnelling and Underground Space Association (ITA). Esta é a segunda edição do ITA Tunnelling Awards, que recebeu a inscrição de 98 trabalhos de 25 países em nove categorias. Ao todo, são 33 finalistas, sendo cinco na categoria da Linha 4 do Metrô. A obra é a única brasileira disputando o prêmio em 2016. Além dela, outro projeto brasileiro é finalista no ITA Tunnelling Awards 2016, mas na categoria Young Tunneller of the Year.

"A classificação de finalistas tem grande valor. Em todas as categorias, houve submissões de vários países do mundo, entre aqueles em que a indústria de construção de túneis é praticada com grande intensidade, rigor e qualidade. Considerando a pequena atividade de construção de túneis em nosso país, quando comparada a de outros países, a presença de dois finalistas brasileiros é uma inquestionável indicação da qualificação técnica dos autores, de suas empresas e do meio técnico de nosso país. Isto é também corroborado pela classificação de finalista no ano passado do engenheiro Eloi Palma Filho, na categoria de Jovem Tuneleiro. O fato é motivo de regozijo do Comitê Brasileiro de Túneis", comemora Tarcísio Barreto Celestino, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis.