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Rio Suchiate, uma fronteira que virou peculiar cruzamento de mercadorias

23/04/2018 06h37

Isabel Reviejo.

Cidade Fidalgo (México), 24 abr (EFE).- As curvas do rio Suchiate desenham a linha que separa o México e a Guatemala: uma fronteira fácil de cruzar pela qual passam milhares de imigrantes e uma multidão de pessoas carregadas com todos os tipos de mercadorias.

Nestas semanas, quando ainda não começou a época das chuvas, o nível do rio está baixo. Chega à altura dos tornozelos, e nos lances mais fundos, na altura dos joelhos.

O ir e vir de pessoas que atravessam o rio com seus calçados nas mãos é constante; alguns levam grandes bolsas vazias, outros carregam caixas e malas nas costas ou acima da cabeça.

Manfredo, originário da Guatemala, coloca seus calçados esportivos após pisar em terra mexicana, na Cidade Fidalgo.

Originário do departamento do El Progreso, no centro do país, aproveitou a visita a familiares que vivem no norte para cruzar a fronteira e fazer algumas compras.

"O que é um pouco mais caro, aqui conseguimos comprar mais barato", como artigos de beleza e de primeira necessidade, relatou à Efe acompanhado de sua filha e de sua esposa.

Manfredo diz que "compensa muito", porque com o tipo de câmbio atual, um quetzal são cerca de 2,50 pesos.

O plano - explica - é comparecer a um supermercado próximo ao rio. Não querem passar adiante, porque lhes contaram que se a polícia os interceptam, "ficam detido por três dias", por não levar a documentação para cruzar legalmente o país.

Da mesma forma que ele, Geovanni, da Cidade de Guatemala, está na fronteira porque ali vivem familiares, entre eles o seu avô, que sofre com dores nas articulações.

"Me disseram que aqui podia comprar um tipo de medicamento (para seu avô) e me ocorreu passar para este lado, porque é mais barato", argumenta.

A família tem a documentação com a qual poderia cruzar pelo porto fronteiriço que está a metros do local, mas ao se tratar de um plano provisório, não portam os passaportes, por isso que cruzar o rio é a única opção.

Em ambas as margens do rio há pequenas lojas nas quais são vendidos produtos como óleo, feijões, roupa de banho, desodorantes, cosméticos, bolachas e iogurtes.

As balsas, compostas por tábuas de madeira sobre grandes pneus, mantêm uma atividade moderada, e unicamente são utilizadas por aquelas pessoas que retornam do México à Guatemala levando mercadoria.

Alguns dos passageiros, após terem cruzado o rio, apontam para os sacos cheios de terra que se acumulam nas margens, e comentam entre eles que foi uma invenção dos balseiros para aumentar artificialmente o leito do rio nessa zona e usá-lo em seu benefício.

Gilberto, um dos balseiros, disse à Agência Efe que nestas datas têm trabalho. "As pessoas passam caminhando, mas há tempos (nos) que há água e já se pode cruzar de balsa".

Protegido do sol - e dos quase 40 graus de temperatura - por um boné e óculos escuros, este salvadorenho narra que chegou ao México há dez anos, e que ficou na fronteira sul porque encontrou um trabalho relacionado com a carga e descarga de mercadorias.

A sua jornada começa pela manhã, e termina às 11 "ou 12 da noite"; o momento em que há mais trabalho é pela tarde.

Em cada balsa, indica Gilberto, cabem aproximadamente 12 pessoas e o peso máximo é uma tonelada, ainda que quando o rio está mais caudaloso, é possível levar mais peso.

Ainda que na maioria das balsas há passageiros, outras estão carregadas unicamente de numerosas caixas de cerveja, leite em pó e produtos de limpeza, entre outros.

Os encarregados das balsas comentam que não há policiais e nem de um lado e nem de outro que impeçam sua atividade, ainda que eles fazem registro de todas as viagens.

Os únicos agentes que chegam ao local "são os que vem extorquir as pessoas, não mais", conclui Gilberto.