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Mineração ilegal polui rios e prejudica comunidades na Colômbia

15/11/2018 09h57

Gonzalo Domínguez Loeda.

Timbiquí (Colômbia), 15 nov (EFE).- A mineração ilegal na Colômbia está poluindo rios, reacendendo a violência e se transformando em um grande problema no país.

Esse fenômeno tem acontecido em algumas regiões banhadas pelo oceano Pacífico, onde há anos começaram a ser encontradas jazidas de ouro que, em vez de benefícios econômicos, parecem ter despertado uma antiga maldição, e um círculo vicioso começou a ser tecido.

A falta de oportunidades levou os moradores a procurarem a mineração ilegal, que enche os rios com cianeto e mercúrio e gera receio quanto à contaminação dos peixes.

Diante da queda no número de vendas, muitos pescadores foram parar na mineração em busca de sustento para as suas famílias e passaram a poluiar ainda mais os rios, conforme disse à Agência Efe um morador de Guapí, no departamento (estado) de Cauca, onde as oportunidades de trabalho são escassas.

Para o defensor público Carlos Alfonso Negret, a situação é clara: é preciso escolher entre o ouro ou os severos danos ambientais.

"Estamos despejando todos os dias cianeto e mercúrio nos rios das regiões da Colômbia banhadas pelo Pacífico", afirmou.

De acordo com dados disponíveis, cerca de 100 máquinas pesadas trabalham nesta região que, vista de cima, parece um tapete verde.

"Isso é muito grave, porque causa grande prejuízo ao meio ambiente", ressaltou.

A grande pergunta é: como essas máquinas chegam até povoados encravados na floresta virgem e que só podem ser acessados de barco? A resposta óbvia é que muito provavelmente haja uma corrupção de maior ou menor tamanho que permite a passagem delas. Ninguém fala disso abertamente, mas o assunto sempre desperta entre os moradores aquele sorriso irônico de quem concorda com a afirmação.

"Nós comemos o peixe se não temos alternativa", disse à Efe um líder social que preferiu não se identificar.

Essa frase resume o medo que a mineração espalhou por esses lugares que cada vez mais se veem obrigados a trazer produtos alimentícios de outros lugares.

A falta de alternativas também pesa para quem acaba optando pela mineração. Mario Tovar, líder comunitário de López de Micay, em Cauca, explicou que muitos recorrem a esse trabalho porque não conseguem compradores para os seus produtos agrícolas.

"Qualquer pessoa que consiga tirar dez gramas de ouro tem dinheiro no bolso, porque ele é comprado em qualquer esquina. A mineração ilegal está crescendo, e isso prejudica o meio ambiente e as pessoas. Visitei áreas de mineração e há mais de 200 pessoas trabalhando ao lado de retroescavadeiras", afirmou.

O desespero leva alguns deles, até mesmo, a tentar defendê-las quando existe a possibilidade de uma delas ser confiscada, porque entendem que o seu sustento depende das máquinas.

Quando perguntados sobre quem são os donos das máquinas e das minas, todos evitam responder.

Apesar da dificuldade de encontrar respostas, o Exército de Libertação Nacional e grupos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia lutam pelo controle da área. Um cenário nada animador do conflito armado, que é cada vez mais alimentado pela mineração, apesar de o cultivo da coca não ter sido esquecido, e que ameaça se estender por todo o país.