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Na alegria e na tristeza, a importância do açúcar no Marrocos

01/03/2019 06h00

Mohammed Siali.

Rabat, 1 mar (EFE).- O açúcar é quase um artigo de primeira necessidade no Marrocos, um país onde cada cidadão consome, em média, mais do que 35 quilos por ano, e em que até hoje nenhum governo se atreveu a retirar os generosos subsídios que permitem que o produto esteja ao alcance de todos.

A gastronomia marroquina se vale muito açúcar para os seus mais diferentes pratos, na ampla variedade de doces e principalmente para preparar uma das bebidas mais populares do país: o chá de hortelã.

Além da cozinha, o açúcar tem peso simbólico. O bloquinho de açúcar, por exemplo, é tradicionalmente uma cortesia para o anfitrião, seja no nascimento de um bebê ou na morte de alguém. Apesar de ter se perdido um pouco, o gesto ainda é mantido no interior e o presente é chamado de "açúcar da alegria".

Ao entrar em um mercado de qualquer cidade do Marrocos, o que mais chama a atenção do visitante são os stands de doces que exibem produtos em diferentes formas e cores, sendo o açúcar o principal ingrediente. O consumo aumenta ainda mais nas festas religiosas e no mês do Ramadã, quando surgem artigos especiais como a Chebakia, um doce típico e coberto com muita calda.

Além disso, o açúcar é base para a bebida nacional, o chá. O chá é quase obrigatório quando alguém quer demostrar atenção com um convidado, seja em lugares mais luxuosos ou mais humildes. Em qualquer café marroquino ou "salão de chá", como costumam ser chamado estes lugares, quando uma pessoa pede "um chá marroquino", já está subentendido que ele será muito doce, tanto que o copo acaba atraindo abelhas.

O açúcar é também símbolo do amor. Quando uma jovem diz ao namorado "traga o bloco de açúcar!", isto significa "venha aqui em casa para pedir a minha mão!".

Entre as razões para o grande consumo do açúcar está o preço acessível. O produto tem incentivos do governo, que cobre mais de 30% do preço real. Este subsídio variou nos últimos anos entre 3,5 bilhões e 5 bilhões de dirhams por ano (R$ 1,3 bilhão e R$ 1,9 bilhão, respectivamente).

Apesar das intenções do Estado de abrir os preços do produto para que o mercado o fixe, nenhum governo se atreveu até hoje a dar tamanho passo por conta do papel essencial desse aditivo na vida cotidiana da população. O orçamento do Estado em 2019, no entanto, estabeleceu um leve imposto (o equivalente a cerca de R$ 12 a cada 100 litros) para empresas de refrigerantes e sucos. O imposto será aplicado de forma gradual quando a quantidade de açúcar superar o teto de cinco gramas em cada 100 mililitros.

A primeira refinaria de açúcar do país foi fundada em 1929 em Casablanca e tinha capacidade para produzir 100 toneladas de bloquinhos de açúcar por dia. Hoje, o país produz mais de 1,6 bilhão de toneladas deste produto por ano e isso só cobre 46% do consumo nacional.

O governo está tentando, desde a instalação do ambicioso plano agrícola "Marrocos Verde", em 2008, aumentar a sua produção de açúcar para cobrir as necessidades e transformar este setor em um grande gerador de empregos e desenvolvimento rural.

O presidente da Federação Nacional do Agronegócio, Mohammed Fikrat, disse no último dia 27 na 3ª edição da Conferência Internacional do Açúcar, realizada em Casablanca, que o setor emprega atualmente mais de 80 mil agricultores nos quase 100 mil hectares onde a cana-de-açúcar e a beterraba açucareira são cultivadas. No mesmo evento, o presidente da União Nacional de Produtores de Açúcar, Abdelkader Ayach, afirmou que o setor, no qual operam 1.200 empresas, gera 5 mil empregos diretos e indiretos. EFE