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Vice-presidente colombiana diz que América Latina tem visão 'medíocre' de integração

Bandeira da Colômbia - Leonardo Muñoz/Efe
Bandeira da Colômbia Imagem: Leonardo Muñoz/Efe

28/07/2022 18h36

A vice-presidente e chanceler da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, que deixará o cargo no próximo dia 7 de agosto, considera que a integração da América Latina não está avançando porque há uma visão "medíocre" e falta de vontade política para levá-la adiante.

"O que é verdade é que faltou uma verdadeira visão de integração, que tivemos, o que lamento dizer, uma visão muito medíocre de integração", declarou Ramírez em entrevista à Agência Efe nesta quinta-feira.

Em sua opinião, "os diferentes governos de todos os países" participam de "muitas reuniões presidenciais e às vezes ministeriais", mas "não há uma real vontade política de nos integrarmos".

"Toda vez que se fala em integração profunda, com liberação de comércio, eliminação de tarifas, eliminação de restrições, constatamos que há muitas limitações e muitos mitos", ponderou.

Ramírez, que também foi ministra do Comércio no governo de Andrés Pastrana (1998-2002), criticou que, "mesmo em termos de eliminação de tarifas, estamos vendo o número de restrições que alguns países latino-americanos impõem a outros países".

Em outros casos, impõem vistos obrigatórios aos viajantes "e quando não emitem vistos, eles param os passageiros na chegada àquele país e os devolvem", pontuou.

"Se realmente existe uma vontade integradora, deveríamos ter um mecanismo único que permitisse a liberdade de circulação de pessoas, de comércio, de bens, de capitais, integrá-los, fazer algo parecido com a União Européia. Porque a América Latina unida é muito poderosa , mas a América Latina individualmente, cada país por si, é fraca no cenário internacional", argumentou.

INDEPENDÊNCIA DA POLÍTICA.

A vice-presidente e chanceler acrescentou que "este continente tem que lutar por isso (integração) sempre, independentemente de os governos que estão no poder serem de esquerda ou de direita".

Nesse sentido, expressou seu desejo de que o Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul (Prosul) seja mantido agora que Chile e Colômbia, os dois países que lideraram esse mecanismo, viram seus governos darem uma guinada da direita para a esquerda.

O Prosul foi criado em 2019 pelo então presidente do Chile, Sebastián Piñera, e seu homólogo colombiano, Iván Duque, como alternativa à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que consideravam excessivamente "burocrática e ideológica".

O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou em 3 de abril a decisão de suspender a participação de seu país nesse mecanismo e resta saber como reagirá o próximo presidente colombiano, Gustavo Petro, que está em sintonia com seu homólogo chileno e assumirá em dez dias como sucessor de Duque.

"Tomara que o Prosul não desapareça, tomara que a complementaridade entre instrumentos e entre mecanismos de articulação e integração em nossa região possa ser alcançada", completou a chanceler colombiana.

Ramírez também disse que gostaria que "todos os países, os governos, os presidentes, ultrapassassem o caráter de curto prazo de seu mandato e pensassem com uma grande visão de estadistas sobre como podemos ter uma América Latina poderosa e integrada, porque seria muito poderoso se tivéssemos um único mecanismo, ou dois que se complementassem".

Fazendo um balanço do que não pôde fazer em seu mandato de quatro anos como vice-presidente e pouco mais de um ano como ministra das Relações Exteriores, Ramírez afirmou que "teria gostado de ter tido mais tempo para fazer muito mais com a América Latina, sobretudo ter gerado um grande projeto integrador baseado em cadeias de valor regionais" para transformar a região, por exemplo, em uma "despensa de alimentos processados ??para muitos países do mundo".

"Acho totalmente absurdo que um subcontinente tão rico em recursos naturais, tão rico em sua capacidade produtiva, tenha um nível de pobreza extrema, uma pobreza tão alta e tanta insatisfação cidadã", lamentou.