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China defende livre-comércio e promete mais de US$ 100 bi para infraestrutura

Pequim

14/05/2017 08h18

O presidente da China, Xi Jinping, defendeu neste domingo um mundo mais aberto e inclusivo, injetando uma nota de ambição geopolítica em uma reunião global para promover a visão de Pequim por uma maior cooperação econômica entre Ásia, Europa e África. Com líderes de mais 29 países e representantes de dezenas de outros, Xi abriu um encontro de dois dias com um discurso que retratou a China como uma força pela estabilidade em um mundo desafiado pelo desenvolvimento desequilibrado e por ameaças à paz.

O presidente disse que a China continua comprometida com o livre-comércio e prometeu mais de US$ 100 bilhões em financiamento e assistência para países, no âmbito de seu programa de construção de infraestrutura em uma grande região do mundo, em uma retomada moderna da chamada Rota da Seda, pela qual seguia o comércio há séculos.

No desenvolvimento de laços econômicos, Xi disse que os governos "deveriam fomentar um novo tipo de relações internacionais". Esse acordo, segundo ele, exigiria renegar alianças e respeitar a soberania de cada país, "os sistemas sociais e os interesses principais de cada um". Diplomatas dizem que Pequim usa geralmente essas frases para exigir que outros países respeitem as demandas da China.

A iniciativa diplomática e econômica da China no evento é conhecida como Um Cinturão, Uma Rota, que prevê a construção de portos, ferrovias, oleodutos e parques industriais, além de reorientar o comércio chinês rumo à Eurásia, ao Sudeste Asiático e à África.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, participaram do evento deste domingo, junto com representantes de mais de 130 países e de importantes empresários chineses. Embora a iniciativa seja em geral apresentada como tendo braços em 65 nações, da China à Indonésia e à Estônia, Xi reiterou que ela é aberta a todos os países interessados. Os presidentes de Chile e Argentina também estiveram presentes.

Alguns países mostram dúvidas sobre as intenções chinesas, vendo a iniciativa como uma forma para companhias chinesas penetrarem em mercados estrangeiros e para o país promover sua força geopolítica. O governo indiano, por exemplo, recusou o convite para o evento, citando preocupações com o investimento chinês em programas no rival Paquistão e questionando a transparência dessa iniciativa. Os EUA enviaram o diretor para assuntos asiáticos do Conselho de Segurança Nacional, em vez de um nome do primeiro escalão do gabinete.

O programa lançado em 2013 da China é realizado no momento em que políticos e parte da população nos EUA e na Europa têm questionado os benefícios da globalização. O presidente americano, Donald Trump, tem acusado a China de conseguir vantagens injustas em acordos comerciais. Empresas dos EUA e da Europa criticam o protecionismo chinês e políticas que limitariam a entrada de companhias estrangeiras no mercado chinês.

As posturas protecionistas em Washington e outras capitais dão à China uma chance de se apresentar como uma guardiã da globalização. "Nós devemos construir uma plataforma aberta de cooperação, bem como manter e ampliar uma economia mundial aberta", disse Xi em seu discurso televisionado. "Nós precisamos também construir uma globalização econômica aberta, inclusiva e amplamente benéfica e equilibrada."

Em seu discurso, Xi frequentemente se referiu às antigas caravanas e rotas marítimas de até dois milênios atrás, que levavam ideias e produtos entre as civilizações. Ao atualizar aquela mensagem, Xi disse que a China estabelecerá 50 laboratórios conjuntos e oferecerá viagens de pesquisa e treinamento para 5 mil cientistas, engenheiros e gerentes estrangeiros.

Xi prometeu US$ 55 bilhões para ampliar o financiamento de bancos estatais para projetos do "Um Cinturão, Uma Rota, além de mais US$ 14,5 bilhões para o estatal Fundo da Rota da Seda, bem como promessas para ampliar os empréstimos comerciais e a ajuda internacional.

Entre os projetos em foco estão iniciativas de infraestrutura e energia conhecidas como Corredor Econômico China-Paquistão. Os progressos, porém, têm sido modestos nos investimentos de infraestrutura comprometidos pela China. Analistas têm argumentado que a desaceleração econômica do país e seu crescente endividamento podem ameaçar a capacidade de Pequim para financiar rotas de desenvolvimento de comércio que conectariam dois terços da população mundial. Fonte: Dow Jones Newswires.