Com PIB menor e mais incertezas, indústria suspende investimentos
A constatação de que a economia deve crescer menos do que o esperado fez os empresários da indústria cortarem investimentos previstos para este ano. A greve dos caminhoneiros, que tirou quase 15 dias de faturamento das empresas, ampliou as incertezas no mercado interno, que já embutiam o risco eleitoral. As pressões externas, que culminaram com a alta do dólar, também aumentaram as preocupações do setor.
Duas pesquisas revelam que, nas últimas semanas, os empresários ficaram receosos em prosseguir com investimentos que levassem a aumento de produção, diante de uma ociosidade entre 25% e 30% nas fábricas. Na semana passada, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) cortou a projeção de investimento do setor para este ano.
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Em março, a expectativa, baseada na consulta a 442 empresas, era de que seria investido 1,2% mais do que em 2017. Agora, a estimativa é de queda de 0,4% ou R$ 503 milhões a menos. Com isso, o aporte total deve ser de R$ 117,3 bilhões. "O grande problema foi a redução da projeção do PIB e a greve", afirma o presidente em exercício da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.
Outra pesquisa mostra que os empresários da indústria começaram a segurar os investimentos antes mesmo da greve. O Indicador de Intenção de Investimentos da Indústria do segundo trimestre, apurado pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV com cerca de 700 empresas em abril e maio, caiu 7,6 pontos em relação ao primeiro trimestre. O resultado é quase o mesmo do fim de 2017 e está abaixo da média registrada antes da recessão de 2014. "É um sinal preocupante porque 95% das indústrias foram consultadas antes da greve, que adicionou mais incertezas", diz o superintendente de Estatísticas Públicas da FGV/Ibre, Aloisio Campelo Jr.. Se a apuração tivesse ocorrido na época da greve, ele acredita que o resultado seria pior.
Efeitos
A retração de aportes da indústria afeta o investimento total da economia. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta para este ano aumento de 4,5% da Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o investimento. Seria o primeiro avanço desde 2013. Segundo o diretor do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diante das incertezas, a alta deverá ser menor.
"Os efeitos de se investir menos são perda de renda e de crescimento do PIB e a redução na capacidade de produção", diz Souza Júnior. Além disso, acrescenta Roriz Coelho, sem investimento em modernização, a produtividade cai, e o país fica ainda mais distante de competidores globais.
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, Rafael Cagnin, investimento em pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, deveria ser contínuo, e interrompê-lo significa que talvez não possa ser resgatado. Segundo ele, grandes investimentos estão fora do radar, e a retomada só deve ocorrer após a eleição. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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