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Com um terço dos projetos eólicos, Casa dos Ventos aposta no mercado livre

Renée Pereira

São Paulo

16/11/2018 09h38

Foi quase por um acaso que o empresário Mario Araripe, ex-dono da Troller, estreou no setor de energia eólica. Em 2006, depois de vender a montadora para a Ford, o cearense decidiu seguir o conselho de um amigo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) para dar uma espiada no potencial dos ventos no Brasil. Com dinheiro em caixa e tempo livre, ele começou a estudar o assunto. Em pouco tempo, tinha criado a Casa dos Ventos, empresa que hoje é responsável pelo desenvolvimento de um terço dos projetos eólicos em operação e em construção no País.

Isso representa 6 mil megawatts (MW) dos 18 mil MW que o Brasil terá até 2024 - atualmente são 14 mil MW instalados - números que colocaram Araripe entre os mais ricos do Brasil, segundo a revista Forbes. A empresa tem ainda um portfólio de 16 mil MW em projetos, que poderão virar realidade nos próximos anos e render ainda mais lucros para o empresário.

Segundo o diretor de projetos e novos negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, filho de Mario, a empresa tem apostado num novo ciclo de crescimento baseado especialmente em soluções para os consumidores no mercado livre e na autoprodução de energia. Na prática, isso significa produzir e negociar a energia diretamente com o consumidor; ou ter um sócio que vai consumir a energia gerada.

Atualmente a companhia trabalha com o projeto de duas usinas na Bahia e no Rio Grande do Norte, que serão destinados ao mercado livre. Previstas para entrar em operação em 2020 e 2021, as plantas - com capacidade instalada de 600 MW - devem ser construídas em parceria com empresas e consórcios, diz Lucas. "Estamos desenhando estruturas de autoprodução por meio de arranjos societários onde esse parceiro vai conseguir usufruir de benefícios de encargos setoriais, garantindo uma redução adicional do custo de energia."

Referência

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, destaca que a aposta da Casa dos Ventos no mercado livre e de autoprodução é o próximo grande passo do setor eólico no Brasil. "Esse é um mercado com grande potencial de crescimento no País daqui para frente", diz Elbia, que vê Mario Araripe como uma grande visionário no setor.

Com os conselhos do amigo de faculdade Odilon Camargo, autor do Atlas Eólico do Brasil, ele marcou território e saiu na frente num negócio que poucos apostavam no Brasil. Em 12 anos, desde que começou a estudar sobre o assunto, o empresário transformou a Casa dos Ventos numa referência para o setor eólico.

Além de desenvolvedora, área que deu início aos negócios, a empresa montou em 2013 uma estrutura de engenharia para construir os próprios parques e depois vendê-los. Com investimentos de R$ 6,5 bilhões, levantou cinco complexos eólicos de 1,1 mil MW. Todos já foram vendidos no mercado: 390 MW para a Cubico (Santander e fundos canadenses); 345 MW para a Echoenergia (do fundo britânico Actis); e 360 MW (Votorantim e o fundo canadense CPPIB).

"Com essas vendas nos preparamos para o novo ciclo de crescimento", diz Lucas. No mercado, fontes afirmam que a Casa dos Ventos arrecadou algo em torno de R$ 1,5 bilhão com as vendas - dinheiro que deverá ser reinvestido em novas frentes no setor eólico e, agora, também no solar.

Um dos planos da Casa dos Ventos é tornar seus complexos eólicos parques híbridos, com a inserção da geração solar e da armazenagem de energia, diz Lucas. A empresa já tem um portfólio com 4,7 mil MW em projetos mapeados no País inteiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.