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Castello Branco: 'Política de preço é sinal do nosso atraso'

Roberto Castello Branco - Vale/Divulgação
Roberto Castello Branco Imagem: Vale/Divulgação

Mônica Scaramuzzo

São Paulo

20/11/2018 09h25

O economista Roberto Castello Branco, novo presidente da Petrobras a partir de janeiro, é considerado um dos homens de confiança de Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Castello Branco se posicionou totalmente contra a política de controle de preços dos combustíveis que foi adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff. "Não se vê política (de preços) para carne e para o arroz, por exemplo. Porque isso simplesmente é o mercado."

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Em maio, os caminhoneiros pararam o país por causa do reajuste ao óleo diesel. O sr. acha que esse assunto foi bem conduzido pelo governo?

Não sei, porque não participei. Prefiro não dar opinião. Mas a raiz disso está na farra de crédito subsidiado do BNDES de 2007 a 2014. Isso, aliada à má condução da política econômica, levou o país a uma recessão brutal, afetando o setor de transporte de cargas.

O subsídio ao diesel tem de ser repensado?

Subsídio não resolve nenhum problema. Pelo contrário, acaba criando outros. Temos um sério problema de desequilíbrio fiscal. Não é recomendável que se mantenham subsídios como um todo. Vamos discutir essa questão mais à frente.

E a política de preços para os combustíveis?

Acho horrível se falar em política de preços. Isso é um sinal do nosso atraso. Não se vê política [de preços] para carne e para arroz, por exemplo. Porque isso simplesmente é o mercado. O ideal é que tenhamos vários players [atores] de mercado e que cada um decida o que é o melhor para seus clientes. É o livre mercado.

O sr. já tem ideia de que ativos poderão ser vendidos pela companhia?

Vamos avaliar. Os detalhes serão discutidos depois de uma análise criteriosa.

Parte das ações da BR Distribuidora já é negociada na Bolsa de Valores. O governo pode se desfazer de uma fatia maior da empresa?

Vamos decidir depois. A Petrobras deverá vender ativos que não fazem parte do core business [parte central do negócio]. Prefiro não especular.

A Liquigás, empresa de gás de cozinha, chegou a ser vendida, mas o negócio foi barrado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Esse é um ativo que não faz sentido a Petrobras ter no seu portfólio. O mercado de distribuição de gás liquefeito ao consumidor é concentrado. Vamos encontrar uma maneira de colaborar para a desconcentração, não para acentuar essa concentração.

Privatizar refinarias está no radar?

É algo que pode ser estudado. Há uma distorção onde uma única empresa detém 98% do negócio. É uma anomalia.

Há uma corrente mais liberal que defende a privatização da própria Petrobras...

Privatizar a Petrobras, neste momento, não está em discussão. Não tenho nenhum mandato do presidente Jair Bolsonaro para fazer isso.

Outro assunto defendido pelo mercado é a quebra do monopólio do setor de gás canalizado.

Esses assuntos deverão ser tratados, mas não envolvem exatamente só a Petrobras. Envolvem políticas públicas, Congresso. Podemos dar nossa contribuição com ideias, mas não depende da Petrobras. O gás natural é uma fonte de energia que ainda é pouco tocada no Brasil. Temos um potencial grande de produzir em larga escala e atrair investimentos.

O sr. afirmou que o foco da Petrobras deverá ser na exploração e produção. Qual modelo deverá prevalecer nesse processo?

Eu sou favorável a que se tenha um único regime de exploração, o da concessão para o mercado como um todo. No Brasil, há três regimes: concessão, partilha e tem ainda a cessão onerosa. Tenho forte preferência por um único regime. A concessão. Ponto.

O sr. considera esse modelo mais atrativo para investidores?

Acredito que os investidores gostam mais do regime de concessão. Temos de tornar o país atrativo para se fazer negócios. Isso significa mais emprego, mais renda e a construção de uma nação próspera.

Qual será o papel da Petrobras no próximo governo?

Será de uma empresa estatal séria, produtiva e que contribua definitivamente para o desenvolvimento do país. Vamos investir mais em pré-sal, atuar em setores-chave e vender o que tiver de ser vendido. No Chile, temos o exemplo da Codelco, maior produtora de cobre do mundo, que convive com outros players no mercado global e contribui para o desenvolvimento da economia chilena. O Chile é a melhor economia da América Latina. É um exemplo a ser seguido.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.