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PF apura desvio no Turismo e sistema s

Fabio Serapião, Marina Dayrell e Fausto Macedo

Brasília e São Paulo

20/02/2019 08h06

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira, 19, a Operação Fantoche para desarticular um suposto esquema criminoso envolvendo contratos feitos por meio de convênios com o Ministério do Turismo e entidades do Sistema S. Um dos principais alvos foi o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, preso na manhã desta terça em São Paulo. Apesar da decretação da prisão temporária por cinco dias, o executivo foi solto no início da noite.

Responsável pela representação da indústria do Brasil, a CNI é o órgão máximo do sistema sindical patronal da indústria e atua em articulação com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de entidades no Brasil e no exterior.

Segundo informações da Polícia Federal, um grupo de empresas, sob o controle de um mesmo núcleo familiar, atuava desde 2002 executando contratos firmados por meio de convênios com o Ministério do Turismo e entidades paraestatais do Sistema S. Estima-se que essas companhias já tenham recebido mais de R$ 400 milhões decorrentes desses contratos.

O Sistema S vem sendo alvo de críticas da equipe econômica, que tem sinalizado o corte de verbas ao sistema e reforçado a falta de transparência das entidades. Formado por Sesi, Senai, Sesc, Senac, Senar, Sescoop e Sest - o grupo também tem sido investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que, em seu último relatório, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, apontou inconsistências nas prestações de contas apresentadas por dessas entidades. Por isso, a operação deflagrada nesta terça teve o apoio do TCU.

Investigação

As investigações apontaram que as empresas usavam entidades de direito privado, sem fins lucrativos, para justificar a celebração de contratos e convênios diretos com o ministério e Unidades do Sistema S.

Os contratos eram, em sua maioria, voltados à execução de eventos culturais e de publicidade superfaturados e só parcialmente cumpridos, sendo os recursos posteriormente desviados em favor do núcleo empresarial por intermédio de empresas de fachada. A principal beneficiária do suposto esquema teria sido a empresa Aliança Comunicação e Cultura.

Segundo a delegada Heloísa Albuquerque, responsável pela investigação, em alguns casos a "licitação" era fictícia e contava com a participação de empresas ligadas ao grupo criminoso. Após essa escolha, essas entidades ficavam com parte dos valores e repassavam o restante para as empresas executoras, como a Aliança. O delegado Renato Madsen, chefe da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Delecor), completou que o grupo conseguia ludibriar a fiscalização e dificultar o trabalho dos órgãos de controle simulando uma concorrência.

Em nota, a Aliança afirmou que todos os seus projetos passam por auditorias internas e externas, sem qualquer tipo de restrição quanto à qualidade e à entrega dos itens contratados. "Nesse momento, estamos nos empenhando para esclarecer todos os questionamentos levantados pela Polícia Federal."

A Polícia Federal cumpriu 40 mandados de busca e apreensão, nos Estados de Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Alagoas. A ação contou com a participação de 213 policiais federais e 8 auditores do TCU. As medidas foram determinadas pela 4.ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco, que também autorizou o sequestro e o bloqueio de bens e valores dos investigados.

Pedido

No fim do dia, no entanto, a Justiça informou que a PF havia feito o pedido de soltura de alguns presos após a conclusão de buscas e apreensões. Além do presidente do CNI, também foram soltos o presidente da Fiepe (Pernambuco), Ricardo Essinger; o presidente do Sesi de Alagoas, José Carlos Lira Andrade; o presidente da Fiep (Paraná), Francisco de Assis Benevides Gadelha; além do empresário Hebron Costa Cruz de Oliveira.

Segundo o juiz que deflagrou a operação desta terça, Cesar Arthur Cavalcanti de Carvalho, apesar de Robson Andrade ser o atual diretor do Departamento Nacional (portanto se poderia imaginar que estivesse mais alheio ao que ocorre nos territórios das regionais), ele "está vinculado à suposta origem das fraudes". Isso porque, na época em que fatos investigados agora ocorreram, o executivo era diretor Regional do Sesi/MG e também vice-presidente do Departamento Nacional. De acordo com o juiz, ele avalizou os diversos projetos contratados pelas entidades regionais.

Em nota, a CNI afirmou que não teve acesso à investigação, mas acredita que tudo será devidamente esclarecido. "Como sempre fez, a entidade está à disposição para oferecer todas as informações que forem solicitadas pelas autoridades."

O Ministério do Turismo afirmou que já havia determinado uma auditoria completa em todos os convênios para repasse de recursos da pasta mesmo antes mesmo da operação da PF e que está à disposição para colaborar com a investigação.

O Sistema Fecomércio/Senac/Sesc-PE afirmou em nota que não praticou nenhum ato ilícito e não é citado ou investigado em nenhuma operação ou processo criminal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.