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Elevação deve levar inflação em 12 meses a pico em torno de abril ou maio, diz BC

Fabrício de Castro

Brasília

26/03/2019 11h00

A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 26, informou que a inflação deve subir nos próximos meses, mas apresentar recuo depois, encerrando o ano dentro dos cenários traçados. O pico da inflação acumulada em 12 meses, conforme o BC, deve ocorrer em abril ou maio.

"O comitê antecipa elevação da inflação nos próximos meses, que deverá levar a inflação acumulada em doze meses a atingir um pico em torno de abril ou maio próximos. Em seguida, a inflação acumulada em doze meses deve recuar e encerrar o ano em torno dos níveis projetados nos cenários reportados", registrou o BC, no 15º parágrafo da ata.

O colegiado ressaltou, no entanto, que "a consolidação desse cenário favorável no médio e longo prazos depende do andamento das reformas e ajustes necessários na economia brasileira, que são fundamentais para a manutenção do ambiente com expectativas de inflação ancoradas".

Na próxima quinta-feira, o BC publicará seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI). No documento, poderão ser vistas as projeções mais recentes da instituição para a inflação ao longo dos meses, em diferentes cenários.

Na ata desta terça, o Copom também repetiu uma ideia presente em documentos anteriores: a de que as diversas medidas de inflação subjacente estão em níveis "apropriados ou confortáveis e que as projeções indicam convergência da inflação em direção às metas ao longo de 2019 e 2020".

Administrados

O Banco Central manteve suas projeções para a alta dos preços administrados em 2019 e 2020, conforme a ata. Para este ano, o índice calculado seguiu em 5,1% no cenário de mercado. No caso do próximo ano, o porcentual permaneceu em 4,7%.

As estimativas anteriores constavam na ata do encontro de fevereiro do Copom. O cenário de mercado utiliza como parâmetros as projeções para câmbio e juros do Relatório de Mercado Focus.

No cenário de referência, que utiliza como parâmetros câmbio constante a R$ 3,85 e juros constantes a 6,50% ao ano, a projeção para a alta dos preços administrados em 2019 passou de 5,1% para 5,4%. No caso de 2020, foi de 4,5% para 4,8%.

Na segunda-feira, 25, o Focus indicou que a estimativa para 2019 no mercado financeiro é de elevação de 4,95% dos administrados. Para 2020, a expectativa está em 4,30%.

As projeções para os preços administrados ajudaram a formar a base para que o colegiado mantivesse na semana passada a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano. Foi o oitavo encontro consecutivo em que o colegiado não alterou a taxa básica.

Concordância sobre riscos

Todos os membros do Copom concordaram que o balanço de riscos para a inflação tornou-se simétrico - e não mais assimétrico, como visto na reunião de fevereiro do colegiado.

Na semana passada, ao manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, o Copom já havia informado mudanças no balanceamento de riscos. Para o colegiado, permanecem os fatores de risco em ambas as direções - desinflacionária e inflacionária -, mas o peso tornou-se equivalente (simétrico).

"Embora com avaliações e ponderações distintas em relação à evolução de cada risco em separado, todos concordaram que o balanço de riscos mostra-se simétrico", registrou a ata.

Taxa estrutural

A ata do último encontro do Copom voltou a registrar que o "elevado grau de ociosidade na economia prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural". Esta avaliação já constava no comunicado do Copom da semana passada e em documentos divulgados pelo BC em meses anteriores.

"Embora estimativas dessa taxa envolvam elevado grau de incerteza, os membros do Comitê manifestaram entendimento de que as atuais taxas de juros reais ex-ante têm efeito estimulativo sobre a economia", registrou a ata.

Condicionalidades

Na ata, os membros do colegiado reafirmaram "sua preferência por explicitar condicionalidades sobre a evolução da política monetária, o que melhor transmite a racionalidade econômica que guia suas decisões". "Isso contribui para aumentar a transparência e melhorar a comunicação do Comitê", registrou a ata.

Neste aspecto, o comitê reafirmou que "julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no passado". "O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo."

Em outro ponto da ata, os membros do Copom voltaram a defender que "a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira são fundamentais para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia, com amplos benefícios para a sociedade". Além disso, o comitê ressaltou que a "percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes".

Grau de estímulo

Na ata do último encontro Copom, há o registro de que os membros do colegiado debateram as "condicionalidades que prescreveriam política monetária estimulativa" - ou seja, a de taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

"Todos concordaram que o grau de estímulo adequado depende das condições da conjuntura, em particular das expectativas de inflação, da capacidade ociosa na economia, do balanço de riscos e das projeções de inflação", registrou o BC na ata. "Em especial, a provisão de estímulo monetário requer ambiente com expectativas de inflação ancoradas."

Ao mesmo tempo, o Copom reiterou, através da ata, a visão de que "a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da sua taxa de juros estrutural, cujas estimativas serão continuamente reavaliadas pelo Comitê".