Em dois anos, só metade dos empregos formais perdidos na crise foi recuperada
Apesar dos números positivos do emprego registrados neste final de ano, o mercado de trabalho ainda está longe de recuperar as vagas com carteira perdidas durante a crise econômica. E mesmo um crescimento mais forte da economia em 2020 pode ser insuficiente para a recriação de todos esses empregos, segundo especialistas.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia, um total de 2,873 milhões de vagas foram perdidas entre 2015 e 2017. Com a lenta retomada da atividade nos últimos anos, foram reabertos 1,494 milhão de postos de trabalho em 2018 e 2019 (até novembro). Ou seja, ainda faltaria 1,379 milhão de novos empregos apenas para retomar o saldo de vagas que foram pulverizadas na crise.
Embora o Caged tenha registrado um saldo positivo em 2014, para muitos setores a crise já fechou vagas a partir daquele ano. A indústria foi de longe o segmento mais atingido, com a destruição de 1,120 milhão de vagas formais entre 2014 e 2017. Nos últimos dois anos, 126,7 mil vagas foram recuperadas nas fábricas, ou apenas 11,3% do total perdido na crise.
Na construção civil, a recessão atingiu 991,6 mil postos com carteira assinada entre 2014 e 2017, para apenas 134,4 mil vagas reabertas no ano passado e neste ano. Um índice de recuperação de apenas 13,5%.
A situação é diferente no comércio e nos serviços, que tiveram retração no saldo de trabalhadores apenas em 2015 e 2016, iniciando a recuperação mais cedo, já a partir de 2017. No caso do comércio, das 410,2 mil vagas fechadas na crise, 227,8 mil já foram reabertas, ou 67,7% do total. E em serviços, as 946,7 mil vagas abertas nos últimos três anos foram mais do que suficientes para compensar os 660,5 mil empregos perdidos nos dois piores anos de crise.
Para José Pastore, economista e professor da USP, os últimos resultados da geração de vagas formais foram animadores. Ele avalia, porém, que a recomposição do estoque total de trabalho que havia antes da crise ainda será lenta, mesmo que o Brasil volte a crescer a uma taxa anual de 2,5% a partir de 2020.
"A criação de quase 100 mil empregos em novembro animou o mercado porque foi quase o dobro das expectativas, mas em dezembro normalmente há um fechamento grande de vagas. Então, devemos encerrar 2018 e 2019 com uma taxa de recuperação inferior à metade dos postos de trabalho perdidos na crise", considera.
O economista acredita que ainda vai demorar cerca de três anos para que o país recupere o estoque de empregos de 2014. Além disso, ele aponta uma mudança na relação entre o crescimento do PIB e o mercado de trabalho.
"Há uma transformação estrutural na geração de empregos, com o incremento da informatização, da robotização e, principalmente, do trabalho por aplicativos. Parte da atual ociosidade nos meios de produção não será reocupada por trabalhadores formais", conclui.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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