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FGV: câmbio médio dos próximos 30 dias determinará futuro de curto prazo do IGP-M

O anúncio do governo de que pretendia financiar o Renda Cidadã com precatórios levou o dólar a bater R$ 5,67 - reprodução
O anúncio do governo de que pretendia financiar o Renda Cidadã com precatórios levou o dólar a bater R$ 5,67 Imagem: reprodução

Cícero Cotrim

29/09/2020 12h49

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou de 2,74% em agosto para 4,34% em setembro, mas já ensaia alívio quando observado como parte da série encadeada dos IGPs, diz o coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. Agora, o caminho do índice vai depender do comportamento do dólar.

"O câmbio médio dos próximos 30 dias pode determinar o futuro de curto prazo do IGP-M", afirma Braz. Na segunda-feira, o anúncio do governo federal de que pretendia financiar o Renda Cidadã com precatórios levou o dólar a bater R$ 5,67, o maior valor diário desde 21 de maio, quando foi a R$ 5,70. A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 5,6353, com valorização de 1,44%.

Embora considere que a valorização do dólar ante o real de ontem seja "mais volatilidade do que tendência", Braz reconhece que o câmbio tornou-se um risco para os IGPs. Uma consolidação do dólar entre R$ 5,50 e R$ 5,60 nos próximos 30 dias já poderia ser suficiente para reverter a tendência de desaceleração e levar o IGP-M de outubro a superar o de setembro, avalia.

Braz diz que não se trata de um cenário base, mas que não é possível descartar a possibilidade de o IGP-M encerrar 2020 próximo da marca de 20%. Apenas um mês atrás, em 28 de agosto, o economista considerava provável que o índice chegasse ao fim do ano acima de 10%.

"À medida que as grandes economias voltam à normalidade - principalmente a China, que é a grande consumidora de commodities - essas commodities se valorizam, e a incerteza doméstica cria uma desvalorização cambial que, se for perpetuada, pode criar uma pressão em direção a esse cenário", afirma.

Repasse

Mesmo com os riscos para cima sobre o IGP-M, Braz ainda vê pouco espaço para repasse dos preços do atacado ao consumidor. Ele lembra que boa parte da inflação do IPC está concentrada em alimentação, que acumula alta de 9,08% em 12 meses, mas que os demais grupos permanecem comportados.

"Temos algum aumento nos bens duráveis em corpo de aço, que estão recebendo pressões do custo do minério, mas são coisas na margem e não em 12 meses. E os serviços e preços administrados ainda estão dando alívio", diz Braz.