BC mantém 'seguro contra crise' intacto
Depois de encerrar 2019 com reservas de US$ 356,88 bilhões, a instituição registrava montante de US$ 356,93 bilhões no início de dezembro.
O nível das reservas foi mantido apesar de, no auge da crise, o BC ter feito operações de montantes consideráveis para conter o dólar. Apenas em março, a instituição despejou US$ 10,67 bilhões das reservas internacionais no mercado financeiro. Em abril, foram mais US$ 6,59 bilhões. De março a novembro, o montante total somou US$ 24,24 bilhões.
Os recursos serviram para que os investidores internacionais, preocupados com o andamento da pandemia, pudessem desfazer posições no Brasil e remeter recursos para fora. Na prática, com essas operações, o BC evitou que o dólar subisse ainda mais ante o real, o que poderia provocar um descontrole geral no mercado.
Embora o BC tenha "queimado" US$ 24,24 bilhões de março a novembro, o nível das reservas se manteve próximo do visto no fim do ano passado e pouco abaixo do registrado em fevereiro (US$ 362,46 bilhões), antes do acirramento da pandemia.
Isso é justificado pela composição das reservas. Atualmente, cerca de 90% das reservas internacionais do Brasil são formadas por títulos de outros países - como os Treasuries americanos. Com a crise econômica provocada pelo novo coronavírus, houve valorização desses títulos ao longo dos meses. Na prática, as reservas internacionais do Brasil se sustentaram porque os Treasuries em sua carteira ganharam valor.
"O PU do Treasury subiu muito", explica José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos. O PU corresponde ao "preço unitário" e, na prática, representa o valor do título. O PU sempre tem relação inversa com a taxa do título. Assim, quando a taxa de juros do Treasury cai, o preço unitário sobe.
Fatores
O que ocorreu na crise provocada pela covid-19 é que surgiu uma série de fatores que levaram à alta do PU dos Treasuries (queda dos juros). Faria Júnior lembra que, com a crise, os juros básicos americanos recuaram, a inflação caiu e houve maior demanda, por parte dos investidores, por esses títulos, considerados um "porto seguro" em momentos de crise.
O resultado foi que o juro do Treasury de 10 anos - uma das principais referências desse mercado - caiu de 1,1543% no fim de fevereiro para 0,9114% em 15 de dezembro. Isso representa recuo de 21,04% da taxa, com consequente avanço do PU.
Esse movimento favoreceu as reservas brasileiras. No fim de fevereiro - antes do acirramento da pandemia -, apenas a parcela de títulos das reservas internacionais contabilizava US$ 335,36 bilhões. No fim de abril, esse montante era de US$ 309,48 bilhões, em função das vendas de dólares feitas pelo BC ao mercado. No fim de novembro, o montante de títulos já estava em US$ 317,02 bilhões, em função da valorização dos Treasuries em carteira.
"O ouro também contribuiu para a sustentação das reservas", cita Faria Júnior. De fato, os dados do BC mostram que, em fevereiro, o Brasil tinha o equivalente a US$ 3,43 bilhões em ouro nas reservas. Com a valorização do metal, em meio à busca dos investidores globais por ativos considerados seguros, o valor das reservas em ouro subiu para US$ 3,84 bilhões no fim de novembro.
Por outro lado, o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, afirma que o nível atual das reservas brasileiras pode ser considerado "um pouco inflado", porque a valorização do preço dos ativos é transitória. "O preço do Treasury vai cair", alerta. Ainda assim, conforme o economista, a situação das reservas não preocupa, porque o País segue como credor internacional - ou seja, seu nível de reservas está acima da dívida externa.
De fato, os dados mais recentes do BC mostram que, no fim de outubro, a dívida externa bruta somava US$ 307,44 bilhões. Na mesma época, as reservas estavam na casa dos US$ 354,55 bilhões. Mesmo quando as reservas atingiram US$ 339,32 bilhões, em abril deste ano, na esteira das atuações do BC no câmbio, o montante se manteve acima da dívida externa de US$ 321,47 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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