História sugere aumento dos gastos e de regulações, diz ex-ministro chileno
Em todo o mundo, os governos foram mais ativos na economia no ano passado. Essa tendência deve continuar?
De fato, a grande maioria dos países, senão todos, aumentou os gastos fiscais para ajudar os desempregados e adotar medidas de saúde. Esse aumento nos gastos do Estado, anticíclico, é de curto e médio prazos e corresponde ao que os economistas chamam de política macroeconômica. Em relação a uma mudança estrutural, ou seja, a um aumento permanente da interferência do Estado na economia, seja em gasto social ou em regulação da atividade, infelizmente, é muito provável que isso seja observado, porque a pandemia revelou, em um grande número de países, deficiências importantes na ação do Estado. Apesar de que a maioria dessas deficiências pode ser remediada com uma reforma do Estado que modifique os gastos, em vez de aumentar os gastos e as regulações existentes, a prática histórica sugere que não será esse o caso.
Como avalia os protestos no Chile que resultaram no plebiscito por uma nova Constituição?
Minha explicação preferida está relacionada com a frustração de expectativas depois de anos de queda significativa da taxa de crescimento econômico do país. Isso se traduziu em problemas financeiros em muitos lares, que começaram a gastar mais que suas rendas. Foi nesse momento que a redistribuição da renda pareceu como uma possível solução à situação. Não parecia haver um clamor por uma mudança no sistema econômico-social, mas um pedido por mudança de objetivos, de crescimento e redução de pobreza para uma justiça distributiva mais favorável à classe média.
O sr. conheceu o ministro Paulo Guedes em Chicago ou quando ele trabalhava no Chile?
É possível que tenhamos participado de algum seminário ou reunião de economistas, já que ele trabalhou um tempo na Universidade do Chile.
Como avalia sua política econômica?
Não tenho acompanhado a evolução da economia brasileira com profundidade. Entendo que foi aprovada uma reforma previdenciária que, embora não seja a originalmente aspirada pelo governo de Bolsonaro, tende a solucionar os principais problemas fiscais do regime anterior, fato que provavelmente está contribuindo para a baixa inflação do País. Como no resto do mundo, no Brasil a política de saúde determinou em grande parte a evolução da economia em 2020. Se julgarmos o que aconteceu exclusivamente do ponto de vista do crescimento econômico e em relação às demais grandes economias da região, o Brasil teve uma queda do PIB muito menor, estimada em 4,4%, contra quedas de 10,5% e 9,1%, respectivamente na Argentina e no México. E, em termos de projeções, essas três economias apresentam taxas de crescimento anual semelhantes, em média 2,5% ao ano, de modo que o Brasil atingirá seu nível de tendência mais cedo. Você pode pedir muito mais?
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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