Alta da desocupação é movimento esperado nos primeiros meses do ano, diz IBGE
"A gente começa a observar a volta da desocupação, o que é um movimento relativamente esperado. A gente tem recuo da desocupação nos meses finais de cada ano, e esse avanço pode ocorrer na virada do ano, pode ocorrer em janeiro, pode ocorrer também em fevereiro", disse Adriana.
O País registrou um recorde de 14,423 milhões de pessoas desempregadas no trimestre encerrado em fevereiro. O total de desocupados cresceu 2,9% em relação a novembro, 400 mil pessoas a mais em busca de uma vaga. Em relação a fevereiro de 2020, o número de desempregados aumentou 16,9%, 2,080 milhões de pessoas a mais procurando trabalho.
"Tem uma maior pressão (de pessoas buscando emprego) nesse momento sobre o mercado de trabalho, sem que haja geração suficiente de ocupação para dar conta dessa pressão. Essa pressão não é suficientemente elevada para mexer na taxa. Do ponto de vista estatístico, (a taxa de desemprego) é considerada estável, mas apresenta tendência de crescimento. Já tem indícios de maior pressão sobre o mercado de trabalho via crescimento da desocupação", afirmou Adriana.
A população ocupada somou 85,899 milhões de pessoas, 321 mil trabalhadores a mais em um trimestre. Em relação a um ano antes, 7,811 milhões de pessoas perderam seus empregos. O saldo de ocupados se manteve positivo em fevereiro ante novembro graças à expansão da informalidade, apontou Adriana. Em apenas um trimestre, mais 526 mil pessoas passaram a atuar como trabalhadores informais.
"Ou seja, não fosse a expansão da informalidade, o movimento da população ocupada como um todo poderia ser de perda líquida de trabalhadores", frisou.
Para a pesquisadora, o mercado de trabalho está perdendo a "robustez do crescimento da ocupação visto no fim do ano passado". Além da questão sazonal de dispensa de trabalhadores temporários contratados no fim do ano anterior, o mercado de trabalho também mostra impacto do recrudescimento da pandemia de covid-19. Embora as medidas restritivas tenham sido mais marcantes em março, ela lembra que em fevereiro já havia sinalização de restrições em função do combate à covid, com o cancelamento de eventos como o carnaval. Um terceiro elemento que contribui para a maior busca por trabalho é a redução do auxílio emergencial, que diminui a renda das famílias.
"Se você pensar que o valor que está sendo conseguido é bem menor que o anteriormente conseguido, é natural de se esperar um crescimento de mais pessoas procurando trabalho. O que vimos em 2020 é que muitas vezes a menor procura de trabalho estava ligada às medidas de restrição para o combate à pandemia", disse Adriana. "Mas também o movimento da desocupação vai estar ligado à dinâmica da pandemia em si e da economia. A dinâmica da pandemia mexe com a dinâmica da economia, que por sua vez mexe com as perspectivas de trabalho e renda", completou.
A população inativa somou 76,431 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro, 18 mil a mais que no trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, a população inativa aumentou em 10,494 milhões de pessoas. Entre os inativos, houve um recorde de 5,952 milhões de pessoas em situação de desalento em fevereiro, 229 mil a mais em apenas um trimestre, que inclui os que não procuram uma vaga por acreditar que não encontrariam uma oportunidade.
"Mais importante que falar que é o maior contingente de desalentados é dizer que é uma população que não para de crescer", concluiu Adriana Beringuy.
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