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Alckmin manifesta preocupação com fala de Lula sobre reforma trabalhista

19 dez. 2021 - Geraldo Alckmin (sem partido), ex-governador de São Paulo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cumprimentam - Ricardo Stuckert/Imprensa Oficial de Luiz Inácio Lula da Silva/AFP
19 dez. 2021 - Geraldo Alckmin (sem partido), ex-governador de São Paulo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cumprimentam Imagem: Ricardo Stuckert/Imprensa Oficial de Luiz Inácio Lula da Silva/AFP

Vera Rosa; colaboraram Iander Porcella e Bruno Luiz

Em Brasília

11/01/2022 08h57Atualizada em 11/01/2022 14h13

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin mostrou apreensão ao saber que a cúpula do PT pretende rever a reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito para o Palácio do Planalto. Cotado para ser o vice na chapa de Lula, Alckmin conversou nesta segunda-feira, 10, com o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, e foi convidado oficialmente para ingressar no partido, mas ainda não definiu seu destino político.

Em café com o deputado numa padaria da zona sul, o ex-governador disse que o mercado ficou preocupado com sinais emitidos por petistas de que haverá um "revogaço" caso Lula assuma a Presidência. Alckmin quis saber a opinião das centrais sindicais sobre o assunto.

Na conversa, Paulinho da Força afirmou que as centrais não planejam desfazer a reforma trabalhista inteira. Avaliam, no entanto, que, desde as mudanças aprovadas no governo Temer, em 2017, o Brasil vive uma escalada de desemprego. "Nosso maior desafio é tirar o País dessa situação e pensar em mais emprego e renda para o brasileiro", disse o ex-governador. À noite, o presidente Jair Bolsonaro rebateu as críticas. "Com muitos direitos, você pode não ter emprego", reagiu ele, em entrevista à Jovem Pan.

Lula fará nesta terça, 11, uma reunião com representantes do governo da Espanha, a fim de debater a reforma trabalhista promovida naquele país em 2012 e a sua respectiva revisão. Presidentes de centrais sindicais do Brasil e da Espanha foram convidados para o encontro, que será na Fundação Perseu Abramo. Adriana Lastra, vice-secretária-geral do PSOE - o partido de Pedro Sánchez, presidente do governo da Espanha -, e José Luis Escrivá, ministro de Seguridade e Migrações, terão participação virtual.

Negociação

Paulinho da Força disse a Alckmin que as centrais querem uma negociação tripartite entre governo, trabalhadores e empresários. Uma das ideias é mudar um artigo do texto que passou pelo Congresso para que predomine o que for aprovado em assembleia, notadamente em relação à cobrança da contribuição sindical por categoria. No diagnóstico das centrais, a reforma trabalhista asfixiou financeiramente as entidades.

O Estadão apurou que o ex-governador gostou da conversa. Sem partido desde 15 de dezembro, quando deixou o PSDB, Alckmin está entusiasmado com a proposta para ser vice de Lula e não pretende mais concorrer ao governo paulista. No ano passado, contratou o marqueteiro Henrique Abreu para cuidar de suas redes sociais, como Twitter e Instagram, e saiu do ostracismo digital.

A possível entrada do ex-tucano na chapa petista, porém, provoca protestos. "Numa eleição aguerrida como essa, não podemos ter um anestesista como vice", ironizou o deputado Rui Falcão (SP), ex-presidente do PT. Até mesmo um abaixo-assinado contra a dobradinha foi organizado por correntes do partido. O site Página 13, da tendência Articulação de Esquerda, tem destacado frases ofensivas do ex-tucano, batizado de "picolé de chuchu", na direção do PT, de Lula, da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-prefeito Fernando Haddad.

Terceira via

Alckmin disse não acreditar numa terceira via na eleição de outubro. Na sua avaliação, a disputa será polarizada entre Bolsonaro e Lula, líder nas pesquisas de intenção de voto. "Eu também não acredito nessa terceira via", afirmou Paulinho ao Estadão. "Acho que, se houver a chapa Lula-Alckmin, a vitória será no primeiro turno."

Até agora, as negociações mais avançadas de Alckmin para essa aliança foram com o PSB. O problema, porém, é que os petistas não aceitam apoiar os candidatos do partido aos governos de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Acre.

"Nós dissemos ao Alckmin que o PT não vai abrir mão desses Estados e muito menos de lançar o Haddad em São Paulo", relatou Paulinho. "No Solidariedade não haverá exigência para nada." O convite do Solidariedade foi antecipado pelo Estadão. O ex-governador ainda não decidiu, no entanto, a qual partido se filiará.

Diante dos obstáculos para o casamento com o PT de Lula, o PSB resolveu fazer um movimento paralelo e negociar com o PDT do presidenciável Ciro Gomes. Na quarta-feira passada, houve uma reunião entre dirigentes do PSB e do PDT, em São Paulo. Naquele dia, porém, ocorreu uma operação da Polícia Civil contra o ex-governador Márcio França, pré-candidato do PSB ao Palácio dos Bandeirantes. A ação foi comparada à investida da PF contra Ciro. Um novo encontro deverá ser realizado ainda neste mês.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.