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Efeitos das altas de juros devem ser sentidos no 2º semestre, diz diretor do BC

O diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que os efeitos do aumento de juros, que chegou 12,75% ao ano, devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre - Getty Images/iStockphoto
O diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que os efeitos do aumento de juros, que chegou 12,75% ao ano, devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre Imagem: Getty Images/iStockphoto

Eduardo Laguna e Antonio Temóteo

São Paulo e Brasília

16/05/2022 12h57Atualizada em 16/05/2022 13h15

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, afirmou nesta segunda-feira, 16, que os efeitos do aumento de juros, que chegou 12,75% ao ano, devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre. Segundo ele, mesmo com a elevação da Selic, o País deve crescer pelo menos 1% em 2022. As declarações foram feitas em transmissão online durante o evento "Annual Brazil Macro Conference", organizado pelo banco Goldman Sachs.

"Com a melhora das contas externas, o desemprego caindo e o mercado de capitais consistente, podemos imaginar perspectivas melhores", disse Serra.

O diretor do BC ainda afirmou que parte do crescimento econômico deve ocorrer com base na recuperação do setor de serviços. "Ainda tem coisa para acontecer na retomada dos serviços. Se tivesse que apostar, o crescimento do PIB em 2022 seria mais de 1%. O investimento surpreende e cresce bem desde a retomada pós-pandemia", disse.

Comparação com outros países

Bruno Serra citou o maciço estímulo fiscal feito pelo governo brasileiro na pandemia, superior ao de seus pares, entre os motivos que obrigaram a autarquia a subir os juros mais cedo do que a maioria dos países emergentes. Apontou ainda a depreciação do real frente o dólar, a crise hídrica, que teve impacto pesado nas tarifas de energia, e a indexação "mais enraizada" do que a de pares, ampliando assim os efeitos inerciais da inflação, ao explicar por que o Brasil começou o combate à alta de preços em situação pior do que a de outros emergentes.

"O desafio foi mais duro", declarou Serra ao lembrar, como num desabafo, que o choque inflacionário global atingiu o Brasil após o País despejar mais de R$ 600 bilhões no enfrentamento da pandemia. "O Brasil estava em situação mais difícil do que a de pares até recentemente."

Ao falar sobre o futuro, ele traçou, no entanto, um cenário desinflacionário, apontando a tendência de normalização das variáveis que influenciam os preços. Entre elas, observou que o câmbio, um importante amortecedor do impacto da escalada inflacionária mundial, voltou a "performar" melhor, levando em conta o desempenho do real frente ao dólar se comparado ao desempenho de outras moedas de economias emergentes.

Apesar das avaliações no mercado de que o governo, com medidas de incentivo ao consumo, isolou o BC no enfrentamento da inflação, Serra julgou que a política fiscal não tem mais atrapalhado a condução da política monetária. "Daqui para frente, a gente começa a normalizar", assinalou o diretor do BC.

Diferenças entre previsões

O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou que as diferenças entre as previsões do mercado e da autoridade monetária para a inflação estão concentradas nos preços industriais e de alimentos. Segundo ele, o mercado prevê que a normalização das cadeias de produção deve demorar mais do que o BC estima.

"A preferência da maioria é por menos flutuação da taxa básica. Se a taxa Selic puder flutuar menos, é melhor. A taxa de juros parada por mais tempo é melhor, mas nem sempre é possível", disse ele.

Serra ainda declarou que o objetivo do BC é perseguir a meta de inflação. Para 2022, a meta de inflação é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5%. "A gente não se amarra em um cenário específico. O objetivo é perseguir meta. Conceitualmente, em regime de metas de inflação, não há limite para a taxa de juros. Estamos sendo cobrados para entregar nosso mandato, não temos que ter receio de persegui-lo", disse.

O diretor do BC também afirmou que as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentadas no Focus são melhores para prever a inflação futura do que as taxas implícitas. "O Focus é melhor do que inflação implícita para prever inflação futura. O descolamento da inflação implícita da meta é generalizado no mundo. Isso não influencia decisões", declarou.

Política fiscal

O diretor de Política Monetária do Banco Central destacou também que a política fiscal do governo não tem atrapalhado a condução da política monetária. Segundo ele, daqui para frente, a inflação começa a normalizar.

"Além de choque de preços global, o Brasil gastou mais dinheiro na pandemia do que outros emergentes. Daqui para frente, inflação começa a normalizar. Do lado da demanda agregada, o fiscal não tem mais atrapalhado condução da política monetária", disse Serra.

Dólar

O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou ainda que o cenário para o câmbio no Brasil, atualmente, é mais "saudável". Entretanto, ele alertou que os lockdowns na China e a alta de juros nos Estados Unidos afetam o preço da moeda estrangeira no País.

"O cenário para câmbio hoje é mais saudável, mas lockdowns na China e política monetária dos Estados Unidos pegaram aqui. O dólar novamente acima de R$ 5 parece estar mais ligado à China do que aos juros dos Estados Unidos", comentou Serra.