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'Estamos no osso', diz relator sobre Orçamento de 2023

Senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do Orçamento de 2023 - Pedro França/Agência Senado
Senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do Orçamento de 2023 Imagem: Pedro França/Agência Senado

Adriana Fernandes e Célia Froufe

São Paulo

02/11/2022 08h36Atualizada em 02/11/2022 13h19

"No osso." É assim que o relator do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), descreve o espaço que existe para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprir as promessas de campanha. Ele avisa que a equipe de Lula terá de dizer o que pretende fazer agora ou deixar para depois.

O relator é taxativo, porém, ao dizer que não há condições políticas de o Auxílio Brasil de R$ 600 não ser resolvido agora com o Orçamento.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. conseguirá lidar no seu parecer com as inúmeras demandas depois dos cortes feitos pelo governo Bolsonaro?

Teremos uma reunião com a equipe do presidente eleito e vamos esperar para ver quais as propostas para o novo Orçamento. Tem várias coisas que o Lula prometeu que temos de avaliar se será feito agora ou depois. Lula prometeu manter R$ 600 (para o programa de transferência de renda). Os R$ 200 adicionais só valem até 31 de dezembro. Em janeiro, as pessoas vão receber quanto? Com segurança, sou capaz de dizer que vão continuar com R$ 600.

Com segurança?

Publicamente, o presidente assumiu esse compromisso. O Lula prometeu mais R$ 150 para as mães com crianças de até seis anos de idade, o que dá um valor de R$ 18 bilhões. Os R$ 200 a mais dão R$ 52 bilhões. Só aí são mais R$ 70 bilhões. Não há espaço no Orçamento para isso.

Mas existem outras promessas.

O Lula disse que vai isentar o Imposto de Renda das pessoas que ganham até R$ 5 mil. Isso dá uma perda de R$ 21,5 bilhões. Estamos tratando de algo perto de R$ 100 bilhões.

O sr. acha que é possível discutir o Orçamento junto com um "waiver" (licença para gastar) em 2023?

Tem de esperar o que eles vão propor. A minha postura é fazer tudo da maneira mais transparente possível com a maior participação de todos. Tudo que eles propuserem vou estudar, aprofundar e levar para a Comissão Mista de Orçamento e os líderes partidários, e fazer uma negociação das propostas do novo governo, do projeto de Orçamento que já tem aqui do velho governo e do Congresso. E ver o que o Congresso está querendo.

O sr. acha melhor colocar no Orçamento só as promessas prioritárias como os R$ 200 do Auxílio Brasil e deixar o resto para definir em 2023?

Não tem condições políticas de esse assunto não ser resolvido. Imagina como entraria o Lula, presidente da República, descumprindo a sua principal promessa de campanha. Não tem como.

No PT, existem duas correntes: uma quer aprovar uma PEC com o "waiver" junto com o Orçamento, e outra prefere deixar para aprovar a mudança em 2023. Qual a direção?

Eu só posso tomar qualquer decisão depois de ouvir. Eles podem vir com uma proposta acabada, 'queremos isso, isso e isso', e podem chegar com proposta nenhuma. É ver o espaço do Orçamento e o que pode ser feito. O que eu sei é que, até as próximas semanas, porque as emendas estão sendo feitas agora, o novo governo tem de dizer o que ele quer e o que ele vai tratar nesse Orçamento.

Pelos números que o sr. já tem em mãos, dá para fazer o Auxílio de R$ 600 reduzindo outros gastos, como as emendas do orçamento secreto de R$ 19,4 bilhões?

O espaço discricionário (despesas não obrigatórias) que tem no Orçamento é de R$ 99 bilhões. E o que tem de investimento são R$ 24 bilhões. Não tem espaço para nada. O Orçamento é engessado. Dentro desses R$ 99 bilhões, estão as emendas e R$ 24 bilhões de investimentos. O País pode ter menos de R$ 24 bilhões de investimentos? É um escândalo. Estamos no osso. O novo governo vai ter de cumprir o compromisso público, terá de dizer como fazer.

O que é prioritário, além do Auxílio Brasil?

Para mim, o que é prioritário: Farmácia Popular, aumento de servidor e reajustar a merenda escolar. Tudo isso eu tenho de fazer de uma maneira que possa ser aprovado.

Os deputados e os senadores querem os R$ 19,5 bilhões livres do orçamento secreto?

Milagre a gente não faz. Por que os parlamentares vão aprovar uma proposta que eu leve acabando com a RP9 (sigla do orçamento secreto)? Não vivemos de fantasia, mas de realidade. Se eu propuser isso, você imagina: como é que se aprovaria? Eu não vou propor isso. Não vivo de fantasia, vivo de realidade. O presidente Lula já deu declarações de que é contrário (ao orçamento secreto). Ele vai tratar desse assunto agora ou quando assumir a Presidência da República?